sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Empresários de ônibus temem concorrência do Uber

Setor teme desequilíbrio financeiro causado pela concorrência dos aplicativos.

Já há cidades nos Estados Unidos que fecharam parcerias com empresas como a Uber para testar serviço em linhas deficitárias
A migração de aplicativos que intermedeiam serviços de transporte individual privado para a seara do transporte público coletivo vem preocupando representantes de empresas de ônibus urbanos de todo o Brasil. A ameaça é de que o equilíbrio financeiro do setor, mantido a partir de especificidades previstas na Constituição, seja afetado pela concorrência gerada pelos softwares. O tema veio à tona no Seminário Nacional NTU, encerrado nesta quarta-feira (24), em Brasília.
Conforme agências internacionais, já há cidades nos Estados Unidos onde os governos locais fecharam parcerias com empresas como a Uber, que oferece transporte remunerado de passageiros. Por lá, a ideia é testar o serviço em linhas deficitárias ou complementares. No Brasil, ainda não chega a tanto, mas a preocupação já existe quanto à possibilidade de que veículos utilitários passem a compor frotas de transporte sob demanda.
“Na década de 90, tivemos a invasão de Kombis e micro-ônibus nas cidades. Com políticas públicas, conseguiu-se acabar com esses serviços irregulares. Agora, surge um inimigo perigoso por meio dos serviços ofertados por esses aplicativos”, afirma o presidente executivo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), Otávio Cunha.
O gestor explica que a lógica das empresas de tecnologia que atuam no ramo é operar itinerários e em horários que julgarem mais rentáveis, diferentemente do caráter de universalidade definido para o transporte público coletivo pela Constituição. “Imagine que, se eu for investidor e comprar uma frota de vans ou de micro-ônibus, vou operar somente onde houver linhas em que eu possa ganhar o máximo possível. É o tipo de ambiente que não combina com o transporte público coletivo, que tem preços módicos, regularidade, opera em períodos de baixa demanda e com linhas deficitárias. Essas características fazem com que o transporte público não admita concorrência e seja exceção a certas regras do mercado”, responde Cunha, sobre críticas a uma suposta reserva de mercado para empresas de ônibus.
Antes mesmo de se tornarem uma ameaça ao dia a dia dos operadores de ônibus, aplicativos de transporte se veem em meio a um entrave com taxistas, que, no Recife, alegam perdas de até 80% no número de corridas desde março, quando o Uber chegou à Cidade. Na última segunda-feira (22), a categoria realizou um protesto que travou a Zona Sul da Capital. A promessa é de que novas manifestações ocorram até que a Prefeitura intensifique a fiscalização contra os veículos do app. Na semana passada, o Ministério Público Federal (MPF) já havia emitido uma nota técnica defendendo que o impasse seja tratado por meio de uma regulamentação federal. A medida, porém, ainda não tem previsão de sair do papel.
Fonte: Folha Pe com Ed Machado.

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