terça-feira, 12 de junho de 2012
Viadutos já eram tidos como solução na época em que a via foi construída. Hoje, não há mais consenso
Uma pesquisa nos arquivos do Diario trouxe-nos à tona o que se pensava sobre a Avenida Agamenon Magalhães na década de 1970. Há mais de 40 anos, a solução apontada por arquitetos e urbanistas para acabar com os pontos de conflitos na via eram os viadutos. Hoje, não há mais unanimidade. Até quem defendeu a construção de elevados tem dúvidas. Na edição de hoje, fazemos um resgate das ideias do passado e mostramos o que elas podem significar para o futuro da primeira perimetral da cidade.
No início da década de 1970, o Recife tinha uma frota de cerca de 50 mil veículos. Já naquela época, havia uma preocupação com pontos críticos da Avenida Agamenon Magalhães. No governo de Geraldo Magalhães foram projetadas soluções de tráfego nas imediações da antiga fábrica Tacaruna e nos cruzamentos da Rua Odorico Mendes, da Avenida Norte, da Avenida João de Barros, da Rua do Paissandu e do Parque Amorim. O então prefeito, que comandou a abertura da avenida, cujas obras tiveram continuidade nos governos seguintes, chegou a deixar uma maquete com a previsão de construção de sete viadutos e a ponte da Ilha Joana Bezerra. Em nossa pesquisa, encontramos registros jornalísticos e relatos como o do arquiteto e assessor de planejamento do governo Geraldo Magalhães, Waldecy Fernandes Pinto, que participou das soluções viárias para acabar com os engarrafamentos.
Hoje, a nossa frota é 10 vezes maior, mas as ideias do passado estão sendo resgatadas com o objetivo de resolver conflitos viários e aumentar a velocidade da via. No governo de Geraldo Magalhães estavam previstos sete viadutos e mais o viaduto-ponte da Ilha Joana Bezerra. Dos sete previstos, foram erguidos quatro: o viaduto-ponte da Ilha Joana Bezerra e os viadutos Capitão Temudo, Avenida Norte e João de Barros. Na época, já se desenhava a construção dos elevados da Paissandu, Parque Amorim e Odorico Mendes, além de outro na altura da fábrica Tacaruna. Quatro décadas depois, os viadutos ressurgem para acabar com os conflitos em quatro cruzamentos. O cruzamento da Odorico Mendes, que até hoje é problemático, ficou de fora. Dessa vez, foram incluídos os cruzamentos do Parque Amorim, Paissandu, Rui Barbosa e Bandeira Filho.
De acordo com o historiador Luís Manuel Domingues, que abordou as obras viárias da Agamenon na sua tese de doutorado, foi a partir de Geraldo Magalhães que se elaborou um plano urbanístico para a via, contendo jardins, áreas de parqueamento e outras destinadas à instalação de equipamentos urbanos como área de lazer, esportes e postos de combustíveis. “Todo o conjunto de obras estava previsto para ser executado ao longo da década de 1970, durante a gestão de três prefeitos”, relatou o historiador.
Uma avenida expressa com ares de modernidade. Era assim que o prefeito Geraldo Magalhães queria que seu legado fosse lembrado. A via, no entanto, tem hoje trechos com velocidade média de 5 km/h no rush, como o cruzamento da Rua do Paissandu.
Ao final da década de 1970, a Agamenon estava praticamente concluída, no governo do prefeito Antônio Farias (1975 a 1979), que construiu o elevado do Cabanga e a segunda ponte sobre o Rio Pina. Coube ao prefeito Augusto Lucena fazer a abertura, a pavimentação e alargamento até o Derby, além do viaduto da Avenida Norte.
De acordo com o historiador, o objetivo principal era dotar a cidade de um sistema viário capaz de viabilizar o fluxo nos diversos sentidos e evitar retenções. Hoje sabe-se que o alargamento de vias e construção de elevados, somente, não resolvem os deslocamentos a longo prazo.
A avenida Canal
Implantação do corredor mudou cenário ocupado por famílias de baixa renda
Por muito tempo, a Agamenon Magalhães era conhecida como Avenida Canal. Sua construção modificou o cenário por onde passava um canal e viviam famílias de baixa-renda. Na obra, foram removidos 178 mocambos, dos 1,2 mil existentes no trecho entre o Tacaruna e a Avenida Norte. Até hoje há comunidades pobres nessas imediações.
O Recife passava a abranger o tráfego de todos os subúrbios. Quem saísse de Afogados em direção a Olinda, por exemplo, não precisava mais ir ao Centro. “Pensamos em um plano urbanístico que é usado até hoje”, afirma o arquiteto Waldecy Pinto.
Apesar de se tornar uma via estratégica, a Agamenon também se transformou em um calcanhar de Aquiles. Qualquer problema impacta o trânsito em toda a cidade. Talvez por isso, ela é o principal palco de protesto dos movimentos sociais. Basta uma faixa interditada para chamar muita atenção.
Esgotamento
Para se ter uma ideia de como a via está esgotada, a velocidade média geral nos horários é de 18km/h. Segundo o arquiteto Waldecy Pinto, as vias locais foram pensadas para os ônibus. “Infelizmente não foram criadas faixas exclusivas como se projetava originalmente”, revelou. Ainda segundo ele, naquela época não se pensava em ciclovias.
Fonte: Diário de Pernambuco
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