Folião, por favor, não deprede o BRT (Bus Rapid Transit). Seja no dia a dia, especialmente no Carnaval. Tanto os veículos quanto as estações que já estão em operação nos Corredores Leste-Oeste, entre Camaragibe e o Centro do Recife, e Norte-Sul, ligando o extremo norte do Grande Recife ao Centro da capital. O custo do sistema é duas a três vezes mais alto do que o da operação convencional, feita pelos ônibus comuns. Essa é a principal razão para esse apelo. Não é à toa que o BRT está praticamente fora de cena neste Carnaval. Das cinco linhas em operação, apenas uma (TI Camaragibe-Derby) irá funcionar. As outras, que poderiam levar a população até o Centro do Recife, serão desativadas na sexta-feira 13, antes do Carnaval. O motivo: o medo da violência contra o sistema e, consequentemente, o prejuízo público.
Os números mostram que o BRT é um tipo de transporte diferenciado. Por ser mais moderno e confortável – com veículos e estações refrigeradas –, tem um custo também diferenciado. Enquanto a janela de um ônibus convencional custa R$ 950 para ser reposta, a de um BRT sai por R$ 1.750. O pára-brisa comum custa R$ 274, enquanto o do BRT sai por 450. O vidro da porta de um coletivo simples é reposto por R$ 70. Já a de um BRT custa R$ 300. Quando passamos para o preço dos ônibus é que os valores são ainda mais discrepantes: enquanto um ônibus comum custa R$ 250 mil, o BRT é comprado por R$ 750 mil.
Além do alto valor das peças que mais são danificadas nos eventos populares, como jogos, passeatas e Carnaval, existe um outro prejuízo que não tem preço no caso dos BRTs: o tempo para reposição das peças. “Não existe estocagem dessas peças. Elas têm que ser enviadas de São Paulo ou do Rio Grande do Sul, onde ficam as fábricas, o que leva tempo. Enquanto isso, o ônibus fica parado, fora da operação. Pode levar até dois meses. É ruim para nós, operadores, pior para a população, penalizada com a redução da frota”, alerta Andrea Chaves, da MobiBrasil, que opera o Corredor Leste-Oeste.
Os valores das estações também são altíssimos. Uma porta de estação (são oito portas por sentido, totalizando 16) custa R$ 4.500. Um painel de vidro fixo, que circula as estações e dá sustentação às portas, é comprado por R$ 2.500. De forma geral, a divisão do prejuízo funciona assim: depois dos novos contratos de licitação, os danos nos coletivos são financiados pelos operadores e nas estações são do Grande Recife Consórcio de Transporte. Mas, no fim das contas, tudo sai mesmo é do bolso do passageiro porque, quando o equilíbrio econômico-financeiro dos contratos for revisto, todo o prejuízo dos operadores será analisado e, se comprovado, será reposto pelo governo, ou seja, pela população.
“Nós gastamos R$ 23 mil por mês para manter uma estação de BRT operando. É um custo que não inclui as depredações. Por isso, as pessoas precisam entender que o BRT é um sistema diferenciado, que precisa ser cuidado e preservado. É um sistema público delegado ao privado. Já fizemos algumas alterações nas exigências, deixando a estética de lado para facilitar a reposição das peças. Por exemplo: o pára-brisa dos BRTs é duplo, colados um no outro, quando o inteiro é o mais usado por ser mais bonito, embora mais frágil”, argumenta o diretor de Operações do Grande Recife Consórcio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário