segunda-feira, 8 de junho de 2015

Um mês após morte de estudante que caiu de ônibus, nada mudou para os passageiros



Situação do ônibus na última sexta-feira (5), registrada no TI da Macaxeira / Foto: Mariana Campello/JC TrânsitoSituação do ônibus na última sexta-feira (5), registrada no TI da Macaxeira
Foto: Mariana Campello/JC Trânsito
Nesta segunda-feira (8), completa um mês que uma estudante morreu ao cair de um ônibus lotado na Cidade Universitária, na Zona Oeste do Recife. Reclamações sobre a situação do transporte coletivo na Região Metropolitana tomaram as principais manchetes em seguida e o assunto provocou protestos e debates sobre o tema. No entanto, 30 dias depois, os passageiros continuam enfrentando as mesmas dificuldades.

Várias vezes perdi minha vez na espera, diz Édson Cícero
Várias vezes perdi minha vez na espera, diz Édson CíceroFoto: Mariana Campello/JC Trânsito
No Terminal Integrado da Macaxeira, o mecânico Cláudio Mirco, 24 anos, reclama da organização e demora dos ônibus diariamente, além da falta de veículos. "Aqui é péssimo demais! O povo no meio da fila invade o espaço dos outros e várias pessoas vão penduradas na porta do ônibus. E demora muito, espero 40 minutos pro meu (ônibus) chegar", reclamou Cláudio. Já a empregada doméstica Maria de Fátima, 44, reclama da desorganização das filas. "Eu acho que deveria ter mais policiais e melhorias na organização da fila, não existe alguém pra ajudar a organizar. Nós nunca sabemos qual será a hora que o ônibus vai chegar", desabafa. O pedreiro Edson Cícero, 37, faz coro sobre os problemas: "todos os dias é desorganizado isso aqui. Quando abrem as portas, pessoas empurram e invadem o espaço do outro. Várias vezes perdi minha vez na espera. E uma coisa que precisa melhorar aqui é a segurança", afirma.

A Central de Atendimento ao Cliente do Grande Recife Consórcio de Transporte recebe uma média de 270 ligações diárias, o que resulta em 4.448 reclamações de janeiro até essa sexta-feira (5). A principal denúncia é por não cumprimento do quadro de horário, com 1.469 ligações, seguida de queima de parada, com 971 registros.

O CASO - A estudante de biomedicina da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Camila Mirele Pires da Silva, 18 anos, deixava a instituição no dia 8 de maio, uma sexta-feira, num ônibus Barro/Macaxeira superlotado, quando caiu do veículo. A jovem permaneceu consciente até chegar ao Hospital Getúlio Vargas (HGV), também na Zona Oeste, onde faleceu.

As investigações ainda estão sendo realizadas pela Delegacia de Acidentes e Delitos de Trânsito, sob responsabilidade do delegado Newson Mota. O prazo para a conclusão do inquérito acabaria neste domingo (7), mas Mota pediu mais tempo para descobrir como o acidente aconteceu e se há culpados.

O delegado questionou à equipe de perícia, por exemplo, como funcionava o mecanismo de abertura e fechamento da porta, se havia câmera no interior no ônibus, se esses equipamentos estavam funcionando corretamente e se há imagens captadas do momento do acidente. Outra dúvida do delegado enviada em ofício ao IC é sobre os ângulos de visão do motorista em relação aos demais passageiros e à parte externa do veículo.

Quando tiver acesso a essas respostas, Mota ainda fará algumas diligências. Até lá, prefere não se pronunciar sobre o caso. "Enquanto o laudo não chegar, não posso formar nenhum juízo", justificou.

Filas e falta de segurança incomodam os passageiros
Filas e falta de segurança incomodam os passageirosFoto: Mariana Campello/JC Trânsito
Prestaram depoimento, até agora, cerca de 10 pessoas, entre eles o motorista e o cobrador do ônibus e oito passageiros. A maioria das testemunhas apresentou a mesma versão: Camila entrou pela porta do meio, devido à superlotação do ônibus. A bolsa dela ficou presa. O condutor queimou a parada seguinte e pouco depois a porta abriu e a garota caiu. Os passageiros gritaram para ele parar e desceram. Ninguém viu sinal de outro ônibus ou carro que pudesse ter atropelado a estudante.

Antes de ser ouvido pela polícia, o motorista afirmou à imprensa, em entrevista coletiva, que não teve culpa. "Estava com o veículo lotado. Não estava enxergando o retrovisor e pedia para um rapaz se afastar, mas ele me xingava", relatou. "Mesmo com o carro em movimento, sou obrigado a parar e eles invadem mesmo", disse ainda.

Depois do acidente, o condutor não teve condições emocionais de voltar ao trabalho e ficou afastado da função por mais de uma semana, segundo o Sindicato dos Rodoviários. Porém, afirma que, no dia do acidente, a empresa Metropolitana, concessionária da linha, pediu que ele realizasse mais duas viagens com o ônibus.

A Metropolitana só irá se posicionar sobre o assunto após a conclusão do inquérito. O Grande Recife Consórcio também prefere silenciar sobre o tema.

FONTE: JC NE10

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