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domingo, 12 de janeiro de 2020

Bye bye BRT pernambucano


Postado por Jailson Silva Blogueiro especialista em mobilidade transpotes
MOVE CIDADE
 COM ROBERTA SOARES REPÓRTER JORNAL DO COMÉRCIO
Acumulado de problemas e descaracterização gradativa do sistema indicam que o Estado e o setor empresarial está abrindo mão do BRT da Região Metropolitana do Recife. Foto: Guga Matos/Acervo JC Imagem

Os últimos episódios envolvendo o BRT pernambucano, batizado como Via Livre, são angustiantes e colocam diante de todos – passageiros, operadores e gestores – o evidente fim do sistema. Pelo menos na forma tradicional que foi pensado e prometido à população e que está nos manuais que regem o modal: um transporte semelhante a um metrô sobre pneus, com qualidade e conforto como marca da operação. Tendo corredor de circulação totalmente segregado, estações de embarque e desembarque confortáveis e com o pagamento antecipado da tarifa, e embarque em nível. O nosso sistema, por mais que isso incomode a todos, está se distanciando dessas premissas. Infelizmente. Desde o segundo ano de operação que sofre e é gradativamente descaracterizado, situação que só piora com o tempo. No ano passado, a esperança de ver o sistema ser reerguido pelo Estado morreu e vimos o BRT Via Livre ser literalmente canibalizado – algumas estações, mesmo em funcionamento, tiveram piso, teto e fios roubados por viciados para serem comercializados em troca de crack.


São cinco anos e sete meses de angústia. Principalmente o Corredor Norte-Sul, que liga o Recife ao município metropolitano de Igarassu, e agora terá alguns dos imponentes veículos BRTs substituídos por veículos bem menores, menos confortáveis e potentes, embora a refrigeração permaneça. O principal eixo do corredor, a rodovia PE-15, que conecta Olinda e Paulista, vive quase no barro o ano quase inteiro. Ano após ano, no inverno, os operadores ameaçam suspender o serviço porque o corredor fica intrafegável em vários trechos. Situações e cenas que doem na alma. Mas nada muda.

EXEMPLOS DO ABANDONO E DESCARACTERIZAÇÃO DO BRT
ESTAÇÕES
BLOQUEIOS
QUALIDADE CORREDOR
Situação do Corredor Norte-Sul. Felipe Ribeiro/JC Imagem
INVASÕES

E a culpa do fim do BRT é de todos nós. Somos todos culpados. A população, porque destrói os veículos e, principalmente, as estações, além de invadir o sistema sem pagamento. O governo de Pernambuco, porque projetou, ainda na primeira gestão do PSB, um sistema fictício sob o aspecto da demanda, e agora quer reduzir o custo da operação para, consequentemente, diminuir o subsídio de R$ 250 milhões/ano que injeta no transporte da RMR. E o setor empresarial, que desistiu de apelar por atenção ao sistema e também aderiu à lógica de reduzir custos e combater a evasão de receita, mesmo que isso signifique a descaracterização do modal e menos conforto para o passageiro.



MENOS INVESTIMENTO DO QUE A VIA MANGUE
O que mais revolta no contexto da pré-morte do BRT pernambucano é observar o alto custo do projeto, executado com dinheiro público. Um sistema caro e pensado para ser a prova de que a qualificação do transporte público é possível. Foram investidos R$ 400 milhões – R$ 198 milhões no Corredor Norte-Sul e R$ 196 milhões no Corredor Leste-Oeste, o mais bem conservado e que liga o Recife ao município metropolitano de Camaragibe. Ainda é preciso contabilizar o investimento nos veículos – 88 BRTs no Norte-Sul e 74 no Leste-Oeste –, cada um comprado por R$ 900 mil, e o custo operacional do sistema, com estações que gastam R$ 31 mil/mês.
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Apesar do alto valor de recursos e de até hoje o BRT Via Livre estar incompleto e operando com aproximadamente metade da demanda de passageiros prevista, a implantação do sistema custou menos do que alguns projetos viários voltados para o transporte individual, como é o caso da Via Mangue, corredor expresso de acesso à Zona Sul do Recife. Enquanto a Via Mangue custou R$ 500 milhões para viabilizar o tráfego de veículos particulares numa extensão de cinco quilômetros, o BRT atende a quase 200 mil passageiros/dia, tem 50 quilômetros e ainda custou R$ 100 milhões a menos. Ou seja, a inversão de prioridades na mobilidade urbana segue apenas no discurso de políticos e gestores. Na prática, passa longe.
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