Um vexame. Essa é a melhor definição para a mobilidade durante o Carnaval 2016. Aliás, da imobilidade – essa seria a palavra correta. Em mais um ano, as reclamações de foliões que sofreram para sair dos polos carnavalescos – especialmente da capital – se repetiram. Gente que resolveu atender aos apelos do poder público para deixar o carro em casa e usar o transporte coletivo e o táxi. Mas que, na prática, não conseguiu nem um nem outro. As dificuldades relatadas nas redes sociais, em reportagens e nas rodas de amigos levantaram os questionamentos: será que, de fato, o poder público (leia-se municípios e Estado) está preparado para oferecer infraestrutura a uma festa dessa magnitude? E mais: o que fazer para que ônibus e táxis tenham prioridade no trajeto da folia? Implantar faixas exclusivas móveis para os dois modais nas principais vias de acesso aos polos seria uma solução? Também não seria o caso de ampliar o reforço dos ônibus?
Não existe uma única saída para o problema. Precisamos de várias. O que eu defendo para o bem da mobilidade é a descentralização cada vez maior dos polos da folia”,Taciana Ferreira, presidente da CTTU
Números oficiais do Grande Recife Consórcio de Transporte mostram que algo precisa ser revisto. Apesar da grandiosidade do Carnaval, conhecido nacionalmente e atraindo cada dia mais e mais gente de todos os lugares, apenas 8% das linhas de ônibus convencionais tiveram reforço para a folia (31 linhas das 395 existentes). Na prática, foram 70 veículos a mais para atender aos polos da folia do Recife e Olinda. O reforço foi maior nas linhas de bacurau (que rodam de madrugada), mas o número de opções é pequeno: das 42 existentes, 36 foram reforçadas em 218 viagens a mais. Será que é o suficiente?
Quem vivencia o transporte público e o trânsito concorda que mudanças precisam ser realizadas, seja na circulação viária, seja na ampliação da oferta de transporte coletivo. Faixas exclusivas com tráfego liberado apenas para os ônibus e os táxis poderiam ter resolvido ou ao menos amenizado o sofrimento da multidão que invadiu o Bairro do Recife na noite da segunda-feira de Carnaval. Foi nesse dia que o transtorno da imobilidade teve o seu ápice devido às atrações de peso da folia: Nação Zumbi, Jota Quest e O Rappa.
Antes da meia-noite muitas pessoas já penavam para conseguir voltar para casa, assustadas com a violência promovida por vândalos no Bairro do Recife. Mas boa parte dos ônibus que vinham do sul não conseguiam entrar no Centro, presos no congestionamento que tomou conta por quase toda a noite das Avenidas Sul e Martins de Barros, fundamentais para a operação dos coletivos que se dirigiam ao Terminal de Santa Rita, principal rota de saída da população por estar próximo ao Marco Zero.
A prioridade viária ao transporte público ajudaria muito. Precisamos sentar, rever os erros e planejar melhor o próximo ano”,André Melibeu, diretor de operações do Consórcio Grande Recife
O Consórcio Grande Recife ainda não tem os números oficiais, mas a experiência dos técnicos já mostra que muitas viagens deixaram de ser realizadas. “Só teremos esses números exatos depois, mas o que nossos fiscais nos passaram é que os ônibus ficaram retidos nos congestionamentos da Avenida Martins de Barros e da Avenida Sul. Houve muito estacionamento irregular de carros particulares, dificultando a passagem dos coletivos. Isso é o que precisa ser revisto. A prioridade viária ao transporte público ajudaria muito. Precisamos sentar, rever os erros e planejar melhor o próximo ano”, argumentou André Melibeu, diretor de operações do Consórcio Grande Recife.
O diretor, entretanto, contesta o argumento de que o reforço da frota é pequeno. “Não é. Reforçamos as linhas que se dirigem aos polos de folia. Fazemos isso há anos. O que aconteceu na segunda-feira foi algo atípico, um público muito acima do esperado”, afirmou. O argumento do diretor é o mesmo usado pela Prefeitura do Recife, que limitou os problemas apenas à segunda-feira de Carnaval, alegando que 300 mil pessoas foram ao Bairro do Recife, quando o esperado eram de 150 mil a 200 mil.
O que aconteceu foi falta de planejamento. Neste ano não faltou táxi. O problema é que os veículos não conseguiam entrar no Bairro do Recife”,Everaldo Menezes, presidente do Sindicato dos Taxistas de Pernambuco
A presidente da Companhia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU), Taciana Ferreira, reconheceu o desastre que foi a mobilidade na segunda-feira de Carnaval. Mas também ponderou que os problemas se concentraram nesse dia. Como solução, defende que a folia precisa ser cada vez mais descentralizada. “Não existe uma única saída para o problema. Precisamos de várias. As faixas exclusivas podem ser uma solução, sem dúvida, mas não conseguiremos implantar em todo o trajeto do ônibus. O que eu defendo para o bem da mobilidade é a descentralização cada vez maior dos polos da folia. Assim, será mais fácil garantir a mobilidade”, disse.
O presidente do Sindicato dos Taxistas, Everaldo Menezes, contesta a avaliação feita pela CTTU. “O que aconteceu foi falta de planejamento. Neste ano não faltou táxi. O problema é que os veículos não conseguiam entrar no Bairro do Recife. A CTTU bloqueou o acesso em um determinado horário, impedindo que os táxis chegassem à Ponte Giratória e é pelo acesso sul que a maioria dos veículos entram no Bairro do Recife. Esse foi o problema. Por isso defendo que no próximo ano sejam implantadas faixas exclusivas para os ônibus e os táxis”, afirmou.
fonte : De Olho no Transito com Roberta Soares.
A verdade é que não há um planejamento antecipado com soluções técnicas devidamente pré estudadas que possam ser colocadas em prática quando da realização de grandes eventos e o carnaval é sempre o maior deles.As soluções paliativas,imediatistas e casuais,deixam sempre grandes brechas e buracos abertos que terminam ocasionando toda essa desorganização,gerando uma enorme confusão que precariza e convulsiona todo o sistema de mobilidade devido,repito,a falta do planejamento adequado e antecipado,para que soluções efetivas e adequadas e bem definidas possam ser adotadas para minimizar os efeitos negativos do grande aumento de demanda e do numero de deslocamentos da população durante a realização de tais eventos.São situações excepcionais que como tal devem ter sempre a atenção e caráter com o mesmo peso.Em resumo,essa é a tecla mais batida e mas desgastada do piano que toca esse tema,PLANEJAMENTO URBANO,a grande maioria dos gestores públicos ainda não conseguiram assimilar e entender o verdadeiro sentido e significado dessas duas palavras,enquanto isso a população não só de Recife mais de tantas outras cidades brasileiras continuam pagando um alto preço por essa falta de compreensão.
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