Ônibus com motor de Fusca
Um dia destes recebi um e-mail do meu amigo José Delia, que é engenheiro e consultor da QR, com a relação dos “Ônibus Elétricos Históricos”. Veículos que foram fabricados nos anos de 1940 e 1950, na Alemaha, e exportados para diversos países do mundo entre eles o Brasil.
Consta da lista vários modelos vendidos para a CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos) de São Paulo, a primeira cidade do país a adotar os ônibus elétricos, em 1949.
Os trólebus, como ficaram conhecidos, chegaram para substituir os bondes que, por andarem sobre trilhos, dificultavam o tráfego de automóveis _já naquela época – cada vez mais intenso. Depois de São Paulo, essa solução de transporte foi adotada em outras cidades como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e Salvador, entre outras.
Eu não sou desse tempo, em que os ônibus chegaram, mas lembro de ter andado muito nos diferentes modelos que havia. Até porque eles eram indestrutíveis. Eu morava no Mandaqui e os trólebus eram a única ligação do bairro com o Centro. Lembro que na frente do ônibus vinha a palavra CIDADE, no local do destino. Naquele tempo, início dos anos 70, o Mandaqui – a 10 quilômetros da Praça da Sé –, era considerado um lugar distante, como uma cidade do Interior.
Levado pela minha mãe ou pelo meu avô, eu gostava de viajar do lado da janela — que era grande e podia ser totalmente aberta. Mas andei nesses ônibus até o primeiro ano da faculdade de Física que cursei antes do jornalismo (embora não tenha concluído).
Nessa época, meados dos anos 80, a linha do trólebus já não ia mais só até o Centro. Cruzava a CIDADE até o Largo de Pinheiros. O “Mandaqui” era o último a chegar. Eu ficava sozinho no ponto até 11h30 da noite, mais ou menos. Mas a espera valia a pena. O ônibus vinha vazio e eu me sentava no fundão, onde podia cochilar sossegado, já que descia no ponto final.
Cansado das aulas de CDI (Cálculo Integral e Diferencial) eu adormecia embalado pelo som que vinha do motor localizado bem abaixo do banco traseiro. Era um tipo de zumbido elétrico acompanhado da percussão de relês ligando e desligando.
O que eu não sabia era que, além do motor elétrico, alguns desses trólebus — como o Uerdingen Henschel ÜH IIIs (foto), — também eram equipados com um motor VW 1600, de Fusca refrigerado a ar, que fazia as vezes de gerador, nas emergências.
Segundo o Delia, que chegou a ver esse recurso em uso, sempre que havia um problema com a rede elétrica, o motorista podia acionar o motor a gasolina para movimentar o ônibus. O motor gerava 18 kW, energia insuficiente para levar o ônibus até seu destino, mas que permitia manobrar e encostar para não atrapalhar o trânsito. Eu não sabia, mas pode-se dizer que naquela época já havia trólebus híbridos.
Fonte: Revista Quatro Rodas
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