segunda-feira, 30 de setembro de 2013

MOBILIDADE GRANDE RECIFE -O futuro corredor, que promete aliviar o trânsito da Zona Sul, já tem gargalos viários mesmo sem estar concluído

via mangue

Via Mangue é boa na ida, mas falha na volta...


 / Foto: Diego Nigro/JC Imagem

Foto: Diego Nigro/JC Imagem

Ela é polêmica desde a sua concepção e deverá gerar controvérsias mesmo depois de pronta. A Via Mangue, promessa de solução viária para a Zona Sul do Recife, defendida pelos gestores públicos há pelo menos dez anos, corre sérios riscos de nascer ultrapassada. Peca por não prever qualquer prioridade ao transporte coletivo, recomendação de bom senso em tempos de pura imobilidade, e por não atender à insaciável demanda por espaço dos automóveis, devido a equívocos de projeção que criaram gargalos viários. O projeto previu um amplo acesso de chegada à futura via, no sentido Centro-Boa Viagem, mas esqueceu das opções de retorno. Ou seja, do jeito que está, a Via Mangue é hoje uma via que vai, mas não volta.
Um dos principais gargalos do futuro corredor, percebido atualmente e que se prolongará caso intervenções físicas não sejam realizadas rapidamente para resolver o problema, é o encontro do túnel da Rua Manoel de Brito, que fica sob a Avenida Herculano Bandeira, no Pina, com a Avenida Antônio de Góes, principal saída da Zona Sul em direção à área central da capital. Construído na segunda gestão do prefeito João Paulo e símbolo da primeira etapa do projeto viário, a passagem subterrânea, que deveria eliminar os conflitos de trânsito, está sendo vítima deles. Engarrafa diariamente não só pelo tráfego intenso que atrai - o RioMar Shopping, inaugurado há 11 meses, é a razão atual -, mas principalmente pelo erro grosseiro de encontrar-se com um corredor de tráfego pesado, que deveria ter sido evitado desde sempre: a Avenida Antônio de Góes. Com o agravante de que essa interseção é feita com um semáforo. O resultado tem sido ruim e, quando a Via Mangue ficar pronta, deverá ficar caótico porque os 30 mil veículos que deverão utilizar a via diariamente passarão por aquele ponto.
Os técnicos confirmam esse raciocínio. “Não acredito que o túnel esteja completo. É óbvio que aquela obra não está concluída. Não é uma questão de engenharia, apenas de bom senso. É uma solução inacabada. O túnel deveria seguir sob a Avenida Antônio de Góes e acomodar o tráfego nessa mesma via através de uma alça. Do jeito que está, apenas sob a Avenida Herculano Bandeira, joga todo o tráfego na confluência com a Antônio de Góes, chocando-se com os veículos que saem da Zona Sul. Não tem lógica. Está faltando algo. A presença do RioMar Shopping, de fato, antecipou o problema, mas ele existiria de qualquer forma mais na frente”, atesta o professor do departamento de engenharia civil da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Fernando Jordão, que está fazendo doutorado em transportes.
Em reserva, um ex-integrante das gestões do PT à frente da prefeitura e profundo conhecedor da Via Mangue confessa que o gargalo criado pela falta de continuação do túnel foi percebido e alertado desde os projetos iniciais da futura via, ainda na primeira gestão de João Paulo. A solução não foi dada por falta de recursos. Ou seja, aquele velho hábito dos gestores públicos de fazer o que dá, mesmo que não seja o ideal. “Sabíamos que o túnel precisava ser prolongado até a Avenida Antônio de Góes, mas o custo, na época, era mais do que o dobro do valor gasto. Além do custo, havia dificuldades com o licenciamento ambiental e a necessidade de negociar desapropriações. Sabíamos que não podíamos jogar o tráfego na Antônio de Góes. Mas era o que dava para fazer. Era melhor do que não executar nada”, afirma.
Uma solução para substituir o prolongamento do túnel, também apontada antes do início da execução da Via Mangue, seria a construção de um elevado na Antônio de Góes. “Era uma outra opção. Com o elevado, o tráfego que sairia do túnel passaria por baixo, entraria numa alça e retornaria à avenida, enquanto os veículos que trafegavam na Antônio de Góes passariam por cima, no elevado. Dessa forma não haveria o conflito. Mas o custo também era alto e se deixou para o futuro”, relata.
Pois o futuro chegou e o momento de encontrar a solução adiada no passado é agora. Todos os dias são registrados congestionamentos no túnel da Via Mangue. À tarde e à noite, eles são certos. As retenções se estendem por mais de 500 metros e os motoristas ainda têm que ficar presos numa rampa, o que é desafio para muitos. Quando a Via Mangue estiver pronta, o volume de tráfego será bem maior, o que ampliará os problemas.
Diante desse cenário, o professor Fernando Jordão faz um alerta, lembrando que os gestores públicos enganam-se com a justificativa de que não previram ao menos uma faixa para o transporte coletivo na Via Mangue porque corredores estão prometidos para as Avenidas Domingos Ferreira e Conselheiro Aguiar. “As pessoas não vão deixar o carro em casa sabendo que têm uma via expressa para andar. Você precisa rivalizar o transporte individual e o coletivo, torná-los concorrentes. Caso contrário, o automóvel vai levar sempre vantagem. Qualquer benefício ao carro faz com que a pessoa não hesite em usá-lo. E a Via Mangue será um benefício ao automóvel, o que é um erro”, avalia.

2 comentários:

  1. O imediatismo as eternas soluções paliativas e tudo sempre voltado para o transporte individual e sobre pneus.Enchem as cidades de viadutos,pontes,elevados e os tais corredores exclusivos de BRT ocupando sempre os canteiros centrais enterrando córregos urbanos transformando-os em esgotos ou destruindo áreas verdes existentes,contribuindo para o aumento da impermeabilização do solo,aumentando os fatores e índices de alagamentos nas épocas chuvosas.aumentando a temperatura ambiente provocada pelo excesso de concreto e asfalto dentro das cidades.Cada corredor criado nos canteiros centrais é mais um espaço aberto para os automóveis nas vias laterais,as faixas exclusivas,fiscalizadas,são infinitamente mais baratas e mais fáceis de serem implantadas além de ocuparem espaços dos automóveis nas vias existentes.Enquanto isso os problemas se avolumam e se agravam mais a cada dia,enquanto ainda permanece a excessiva visão "rodoviarísta" que teima em continuar privilegiando o transporte individual e a tentativa insólita de querer resolver sempre os problemas do transporte público a qualquer custo apenas com o uso de ônibus maquiados com siglas e inglês como se isso bastasse,empurrando sempre para frente uma solução mais eficaz e duradoura a médio e longo prazo com a implantação de sistemas de transportes de massa de média e alta capacidade sobre trilhos,e sub-sistemas complementares e alimentadores diversos, com integração física e tarifária entre todos os modais componentes.O poder do oligopólio do transporte rodoviário encrustado no Brasil,a falta de planejamento urbano,a falta de infraestrutura nos bairros ocasionando um maior numero de deslocamentos, o inchaço criado com a alta densidade populacional nos mesmos,a especulação imobiliária, a falta de uma visão de cidades para pessoas,os financiamentos privados de campanhas eleitorais,o comodismo de boa parte dos nossos administradores,além da falta de visão e boa vontade para soluções sustentáveis,definitivas e mais eficazes a médio e longo prazo são os grandes entraves e os maiores problemas que afetam negativamente a Mobilidade Urbana em nosso pais.A mobilidade além de soluções técnicas e politicas sociais adequadas voltadas para o sistema de transporte público exige também dos nossos administradores um conjunto de soluções a nível de planejamento urbano para as cidades,que seja adequado,sustentável,racional e inteligente onde se consiga entender, que as "cidades são para pessoas"......

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  2. o ideal seria transporte publico não individual!mas quem cresceu cultuando o Deus Carro,merece isso. todos sofrem pela preferencia ao transporte individual. o BRS é uma solução sim. se bem que o ideal seria investir em VLT E METRÔ! mas nossos politicos e nossa sociedade preferem endeusar o individualismo reforçada por nossa irresponsável imprensa,que sofram!

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