Além de constrangedora, a visão de passageiros entrando de graça no metrô do Recife, como tem acontecido há pelo menos dois dias nas Linhas Sul e Diesel (VLT) porque 130 funcionários abandonaram as bilheterias por falta de pagamento de salários, compromete ainda mais a vexatória situação financeira do sistema. Considerando os passageiros lindeiros do metrô, ou seja, aqueles que entram na rede diretamente pelas estações, pagando a passagem de R$ 1,60 (sem usar os terminais integrados), são em média 15 mil usuários viajando sem pagar por dia. Somente na Linha Sul. Na Diesel, não chegam a mil. Em dinheiro, a evasão de receita representa R$ 24 mil a menos caindo no caixa do sistema por dia.
A conta é simples e foi feita, inclusive, com a ajuda da superintendência da CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos) em Pernambuco. A Linha Sul responde por 150 mil passageiros dos 420 mil que hoje são transportados pelo metrô. Em média, apenas 20% dos usuários do sistema entram nele pela estação – a maioria, de fato, vem pela integração com os ônibus. Sendo assim, chegamos ao total de 15 mil pessoas. O número, é claro, pode ser até maior, já que há informações dos próprios funcionários de que passageiros que têm o VEM (Vale Eletrônico Metropolitano) também estão “pegando carona” no fechamento da bilheteria e passando sem pagar.
Na Estação Largo da Paz, os funcionários orientavam os passageiros que não tinham o VEM a passar pelo portão de acesso sem pagar. Confira no vídeo:
“De fato, é uma situação constrangedora e incômoda para o metrô. Estamos correndo contra o tempo e as dificuldades administrativas para resolver o problema. Já criamos uma comissão interna para desfazer o contrato firmado com a empresa terceirizada e iremos contratar, em caráter de urgência, uma outra. Pretendo resolver o problema ainda nesta quarta-feira (8/6) ou, no máximo, na quinta-feira (9/6). Já acionamos a empresa para que ela coloque o pessoal o mais rápido possível”, explicou o superintendente do metrô do Recife, Leonardo Beltrão, metroviário com 33 anos de casa.
A situação é mais um reflexo da crise financeira enfrentada pelo metrô do Recife. A Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) teve que repassar para todos os sistemas sob sua gerência o corte de 38% no orçamento anual, provocando uma redução no dinheiro que paga o custeio do metrô do Recife de R$ 82 milhões (quantia já insuficiente para fechar o ano) para R$ 51,8 milhões. A quantia daria para o sistema bancar a operação apenas até este mês de junho. Depois, teria que parar de funcionar em determinados dias e horários. Diante da situação e da grita do próprio metrô, o Ministro das Cidades, o pernambucano Bruno Araújo, garantiu mais R$ 33 milhões para complementar o orçamento inicial, mesmo insuficiente.
Para piorar ainda mais a situação, apesar de o orçamento ter sido garantido pelo ministro, o metrô divulgou que a empresa contratada para cuidar das bilheterias tem pendências trabalhistas para resolver e, por isso, não pode receber o dinheiro devido para repassar aos funcionários. Um acordo na Delegacia Regional do Trabalho terá que ser feito para resolver o problema. “A empresa contratada pela CBTU para prestar serviço de venda de bilhetes na Linha Sul e na Linha Diesel possui várias pendências documentais do tipo encargos sociais e certidão Ativa da União. Portanto, a companhia está impossibilitada de realizar o pagamento a referida empresa e está verificando junto ao Ministério do Trabalho e do sindicato da categoria, uma forma de encontrar uma alternativa de pagamento diretamente aos colaboradores terceirizados”, diz a nota oficial.
Fonte : De Olho no Trânsito com Roberta Soares.
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