Alargamento da Cruz Cabugá, no Recife, fracassa: é a segunda morte do BRT pernambucano
Corredor de BRT seguirá espremido na via, perdendo mais de 20% do tempo de viagem ao longo dos 33 quilômetros do corredor.
Um dos piores trechos para o BRT Pernambucano, a Avenida Cruz Cabugá, no Centro do Recife, seguirá sem previsão de alargamento. A licitação que previa a contratação de estudos para iniciar as obras - discutida e prometida há pelo menos dez anos - fracassou, ou seja, não teve interessados. Assim, os BRTs do Corredor Norte-Sul, que liga a capital ao município de Igarassu, continuarão espremidos na via, perdendo mais de 20% do tempo de viagem ao longo dos 33 quilômetros do corredor.
A informação de que a licitação deu deserta foi publicada no Diário Oficial do Estado desta terça-feira (15/9). A concorrência pública previa a contratação de consultoria de engenharia para realização de estudos técnicos, projeto de canteiro, plano de execução e orçamento, elaboração do projeto de sinalização para os quatro trechos que deverão ser alargados na Cruz Cabugá, no trecho entre o Shopping Tacaruna e a Rua do Riachuelo. Por ele, passa o Ramal Centro do BRT Norte-Sul.
O trecho em questão, inclusive, é o maior gargalo do corredor. Para se ter ideia do prejuízo que a ausência do corredor segregado provoca no BRT Norte-Sul basta ver os números da operação (antes da pandemia de covid-19): os veículos perdem quase 30 minutos da viagem que leva, em média, 1h20 entre Igarassu e o Centro do Recife nos horários de pico da manhã e da noite. Os BRTs saem do TI Igarassu, por exemplo, desenvolvendo 30 km/h. Na Cruz Cabugá, a velocidade cai para 5/6 km/h.
Soluções para o corredor vêm sendo discutidas e tentadas há muitos anos, sem sucesso. Inicialmente, a proposta foi alargar toda a via a partir da retirada da Vila Naval, conjunto de residências da Marinha do Brasil existente na margem leste da Cabugá. Mas a Prefeitura do Recife, o governo de Pernambuco e a Marinha nunca chegaram a um acordo. A proposta dos militares sempre foi a troca por outras moradias para os servidores, na mesma região.
Depois de muitas idas e vindas, a solução agora é o alargamento em trechos, com a criação de “baias” para abrir espaço para a circulação prioritária dos BRTs e a ultrapassagem entre eles.
Conheça o Projeto
A proposta de alargar trechos da Cruz Cabugá é uma chance de melhorar a velocidade de operação do corredor, que até hoje não é segregado na via, obrigando os BRTs a disputarem espaço com os carros. Algo injusto para os coletivos que transportam 85 mil pessoas/dia. Seria uma pequena intervenção que permitiria a segregação física do corredor, deixando a circulação dos BRTs livre, sem a interferência dos veículos particulares, como acontece até hoje.
A intervenção não é faraônica, ao contrário. Resume-se a um recuo das calçadas num trecho de 200 metros na pista oeste da Avenida Cruz Cabugá, entre a Rua dos Palmares (continuação da Avenida Mário Melo) e a Avenida da Saudade (uma rua ao lado da Assembleia de Deus). O custo estimado era de R$ 500 mil (incluindo projetos e obras).
Em agosto de 2019, quando a proposta foi apresentada pelo governo do Estado, a previsão era de que as obras fossem concluídas até o fim do primeiro semestre de 2020. Mas deu tudo errado com a pandemia e, agora, com a falta de interesse pelo projeto.
NOVA LICITAÇÃO
A Secretaria de Desenvolvimento Urbano de Pernambuco (Seduh) informou que o edital de licitação para o projeto da Avenida Cruz Cabugá será relançado na próxima semana.
“A licitação para contratação de empresa de consultoria de engenharia para realização de estudos técnicos, projeto de canteiro, plano de execução e orçamento, elaboração do projeto de sinalização e elaboração de projetos para os quatro trechos a serem alargados na Avenida Cruz Cabugá será reaberta na próxima semana pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação. A empresa vencedora deverá realizar estudos técnicos no trecho entre o Shopping Tacaruna e a Rua do Riachuelo, incluindo projetos para alargamento de trechos da avenida (Estação Santo Amaro, Estação IEP, Escola Sylvio Rabelo e Hospital do Exército) e para desapropriação do trecho referente ao Hospital do Exército, localizado no ramal centro do Corredor Norte-Sul. O prazo de execução dos serviços é de 220 dias a contar da assinatura da ordem de serviço.”
Roberta Soares - Coluna Mobilidade
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