O conforto é fato. O Via Livre, o BRT pernambucano, qualificará o sistema de transporte público por ônibus do Grande Recife. As estações refrigeradas e acessíveis, e os ônibus novos, confortáveis e com ar-condicionado, farão a diferença. Os acertos são o tema da segunda e última reportagem sobre erros e acertos do BRT.
O passageiro do BRT pernambucano poderá não sentir a economia de tempo na viagem, estimada entre 15 e 30 minutos, prometida pelo governo desde que Pernambuco optou pelo Bus Rapid Transit. Mas, sem dúvida, sentirá a diferença no conforto do futuro sistema. Os equívocos do projeto dos corredores Norte-Sul e Leste-Oeste existem, mas não devem, apostam técnicos e operadores, anular o conforto para a população, sustentado, basicamente, na qualidade dos ônibus e das estações de BRT. A viagem ficará mais prazerosa, sem dúvida. Afinal, pelo menos na teoria, o BRT é conhecido como metrô sobre pneus ou ônibus metronizado exatamente pela eficiência que oferece. Ou deveria oferecer.
Teremos as primeiras estações de BRT com ar-condicionado do País. No mundo, será a segunda. Apenas o BRT de Monterrey, no México, possui estações refrigeradas, segundo levantamento do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP). Operadores as consideram estreitas (são menos de quatro metros de largura) e temem a futura manutenção não só do ar, mas também dos vidros temperados. Mas é fato, como afirma o ITDP, responsável pelo Guia Padrão BRT, que qualificam ainda mais o sistema de BRT. “Tememos a manutenção porque ainda não está claro de quem será o custo. Se do setor empresarial, do sistema – nesse caso, do povo -, ou do Estado. Imagine como será quando o ar-condicionado apresentar problemas e a Copa do Mundo tiver passado?”, indaga um operador.
Apostando que tudo dará certo, o passageiro do BRT contará com 45 estações nos dois corredores de BRT com acessibilidade universal, pagamento antecipado das passagens e embarque direto no ônibus, sem subir e descer degraus e, muito menos, sob sol e chuva, enfrentando calor e alagamentos. Nas estações, painéis informativos deverão indicar a chegada das linhas, com intervalos estimados entre três e cinco minutos. É a previsão.
Os veículos BRT são outra ferramenta que ajudarão a convencer o cidadão de que o sistema pode ser confortável. Serão 179 ônibus de alta capacidade, o que diminui a sensação de “sardinha” vivida pela maioria dos 2 milhões de passageiros diários do sistema de transporte da Região Metropolitana do Recife, especialmente aqueles que dependem dos terminais de integração. Os ônibus convencionais medem 12 metros, possuem entre 37 e 48 assentos e capacidade para 90 passageiros. Enquanto o BRT, assim como os ônibus convencionais articulados, medem 21 metros, têm entre 36 e 58 cadeiras e capacidade para até 165 passageiros. Ou seja, espaço haverá. Custam, em média, R$ 800 mil cada. “É possível, sim, superlotar um BRT, mas não é isso que se espera de um sistema eficiente, até porque a frequência dos veículos deve ser constante”, explica Pedro Torres, gerente de políticas públicas do ITDP Brasil.
O conforto dos BRTs também será percebido por outras diferenças em relação aos ônibus em operação atualmente. As principais são o ar-condicionado e a transferência do motor da parte dianteira para a traseira do veículo. Ganham passageiros e, também, operadores. Reflexo dessa “qualidade operacional” é a concorrida procura por treinamento entre os motoristas das empresas que compõem os consórcios que irão operar o sistema. Todos querem dirigir os BRTs. A suspensão é moderna e os ônibus terão computadores de bordo para garantir a eficiência da operação e a comunicação com os condutores. Como veículo, representa um salto de qualidade. Para todos.
Leia a primeira reportagem sobre os erros e acertos do BRT: O BRT dos “puxadinhos”
Leia mais na edição do JC desta segunda-feira.