Com isso, encarroçadora que é líder de mercado de urbanos, quer se firmar no segmento de rodoviários
ADAMO BAZANI
Os diretores da Caio/Induscar Marcelo Ruas e Maurício Lourenço da Cunha foram à Joinville, em Santa Catarina, nesta quarta-feira 22 de março de 2017 e assinaram o documento de compra da Busscar, na 5ª Vara Cível na cidade.
Nesta terça-feira, o juiz Walter Santin Júnior, homologou a compra pelos sócios da encarroçadora da capital paulista por R$ 67,1 milhões. O valor, dividido em um sinal de R$ 9 milhões e mais de 50 parcelas pelos próximos quatro anos, compreende as unidades da Busscar em Joinville, Pirabeiraba e Rio Negrinho, assim como seus terrenos, edificações, maquinário e móveis.
Formalmente, a Caio em si não poderia assinar a compra e sim seus sócios, mas oDiário do Transporte apurou que o grupo de São Paulo tem mesmo a intenção de fabricar ônibus rodoviários. Hoje a Caio é líder no segmento de urbanos, mas tem pouca expressão nos setores de fretamento e rodoviários, com os modelos Solar e o Giro, este que teve mais penetração no mercado exterior.
Existe um prazo legal a ser cumprido para verificar se há contestações à compra, mas isso não deve ocorrer. O grupo deve investir em torno de R$ 100 milhões para atualizar as plantas, gabaritos e equipamentos. Reformas prediais também estão previstas.
O grupo da Caio ainda não definiu qual será o nome da nova empresa, que não deve ser tratada como filial da planta de Botucatu, no interior de São Paulo.
Nos bastidores, há uma discussão se a nomenclatura pode ensejar lembrança à Busscar, que durante décadas foi reconhecida como uma das maiores e melhores encarroçadoras do país, desde a época da Nielson (nome de fundação da empresa).
No entanto, um dos objetivos é mostrar que uma nova empresa está surgindo.
Havendo consenso e não existindo nenhum recurso, os administradores devem assumir a Busscar no final de abril. As contratações devem começar em maio, se não houver nenhum entrave no caminho. Será dada preferência a ex-funcionários da Busscar.
O dinheiro obtido com a venda irá preferencialmente para débitos trabalhistas, seguido de bancos e fornecedores.
CAIO “NAMORAVA” HÁ MUITO TEMPO A BUSSCAR:
O namoro entre a empresa de Botucatu, atualmente especializada apenas em ônibus urbanos, e que não preenche o mercado de ônibus rodoviários, é antigo.
Em 2007, a Caio já havia procurado sócios da Busscar para uma fusão. As negociações não avançaram.
Em outubro daquele ano, porém, a Justiça indeferiu a proposta da Caio que previa pagamento de R$ 40 milhões pelo complexo.
Em 15 de fevereiro de 2012 foi anunciada a criação de uma joint venture formada pelos acionistas das duas gigantes da produção de carrocerias de ônibus: Caio e Marcopolo.
A parceria envolve a Twice Investimentos e Participações, integrada por acionistas da Caio Induscar, e a controlada da Marcopolo, Syncropats Comércio de Distribuição de Peças Ltda.
Em 2013, a Caio voltou a apresentar outra proposta, desta vez para aluguel da Busscar.
Esta proposta também foi recusada pela justiça. Todas as propostas foram apresentadas em período anterior à crise econômica.
As empresas propuseram à Quinta Vara Cível de Joinville, que cuida do processo de falência da Busscar, o aluguel/arrendamento do Parque Fabril da companhia.
BREVE HISTÓRICO:
A Busscar foi fundada oficialmente como Nielson no dia 17 de setembro de 1946, com iniciativa de Augusto e Eugênio Nielson que começaram uma pequena oficina em Joinville, atuando na construção de móveis e utensílios e fazendo reparos em carrocerias de caminhões e cabines. Em 1948, a Nielson fez seu primeiro veículo de transporte coletivo, uma jardineira – ônibus simples feito de madeira. O veículo da Nielson foi uma encomenda da empresa Abílio & Bello Cia Ltda, que fazia a linha Joinville – Guaratuba, em Santa Catarina.
Foi na época do surgimento empreendimento dos Nielson, que o Brasil começava assistir mais intensamente o crescimento das cidades e também das relações comerciais entre as diferentes localidades. Tudo isso demandava uma maior oferta de transportes. Assim muitos empreendedores compravam chassis de caminhão, como da Ford e da GM, e precisavam transformá-los em ônibus para enfrentar as difíceis estadas de terra e verdadeiros atoleiros. Nesta época, a Nielson & Cia Ltda. tinha o comando do patriarca da família, Bruno, e do filho Harold.
Em 1958, um dos marcos para a Nielson foi o projeto de estrutura metálica para os ônibus.
No início dos anos de 1960, ganhavam as estradas os modelos Diplomata, carroceria de dois níveis que lembravam os Flxibles norte-americanos que, quando foram importados pela Expresso Brasileiro Viação Ltda eram chamados de Diplomata. A Nielson então conquistava definitivamente o mercado.
Nos anos de 1980, Nielson cresce mais e no segmento de rodoviário travava disputa acirrada com a Marcopolo e no segmento urbanos, a briga era com a Caio, praticamente de igual para igual.
A linha Diplomata tinha recebido novas versões e o Urbanuss ganhava atenção dos frotistas.
Por uma estratégia de negócios, a Nielson mudou a marca para Busscar. Inicialmete a marca foi conhecida como Busscar-Nielson. Surgiram os rodoviários El Buss e Jum Buss e os urbanos da linha Urbanuss.
Em 2002, a Busscar começa enfrentar dificuldades financeiras. A família Nielson alegava problemas motivados pela variação cambial e também dificuldades de créditos, mas já havia também erros administrativos internos. O BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social chegou a realizar empréstimos para empresa, que não foram plenamente honrados. A recuperação não foi plena, havendo novamente outro problema financeiro em 2004. A última crise da Busscar começou em 2008, quando a empresa começou a atrasar salários.
Depois de uma dívida que se aproximou de R$ 2 bilhões, contando juros, impostos e débitos com fornecedores, trabalhadores e bancos, a empresa teve a falência decretada em 27 de setembro de 2012 pelo juiz Maurício Cavalazzi Povoas. A decisão, no entanto, foi anulada em 27 de novembro de 2013, após recursos judiciais. No entanto, os recursos caíram em 5 de dezembro de 2013. A família Nielson chegou a apresentar um novo pedido de recuperação judicial, mas o juiz Luis Felipe Canever, de Santa Catarina, após negativa por parte dos credores, decretou no dia 30 de setembro de 2014, nova falência da encarroçadora de ônibus Busscar, que já foi uma das maiores do Brasil.
Os negócios continuam na América Latina com a atuação em parceira de outros grupos, com destaque para as operações na Colômbia.
A Busscar Colômbia foi formalizada no ano de 2002 sendo fruto de uma aliança entre a indústria local Carrocerías de Occidente, empresa fundada em 1995, e a Busscar Ônibus do Brasil, fundada pela família Nielson em 17 de setembro de 1946.
Foram várias tentativas de leilão da Busscar, três somente em 2016. No dia 8 de julho, terminou sem lance o terceiro leilão da empresa.
No final de outubro de 2016, foi apresentada uma proposta de compra por R$ 67,15 milhões por um grupo de investidores com o objetivo de retomar as produções em meados de 2017.
Em dezembro do mesmo ano, foi liberado um lote de R$ 18 milhões para saldar parte das dívidas trabalhistas.
Também em dezembro de 2016, dois grupos internacionais, o português a Imparável Epopeia UniPessoal Ltda e o chinês Liaoyuan Group demonstraram interesse na compra da Busscar.
Em 07 de janeiro de 2017 terminou o prazo para as empresas estrangeiras apresentarem a documentação exigida.
A proposta ficou somente pela Caio. No dia 08 de janeiro, advogado da Caio esteve em Joinville e confirmou valor proposto de R$ 67,5 milhões.
Em 21 de março de 2017, o juiz da 5ª Vara cível de Joinville, Valter Santin Júnior, aprovou em sentença definitiva a compra da Busscar por sócios da Caio, encarroçadora de ônibus de Botucatu/SP, que tem como principal sócio o Grupo Ruas, de empresas de ônibus de São Paulo.
No dia 22 de março de 2017, os sócio-diretores da Caio/Induscar Marcelo Ruas e Maurício Lourenço da Cunha foram à Joinville, em Santa Catarina e assinaram o documento de compra da Busscar, na 5ª Vara Cível na cidade