Novo equipamento é apertado e exige mais força para girar, deixando os usuários constantemente presos
A entrada e saída de passageiros está mais lentaJúlio Gomes/LeiaJáImagens
“Isso é um desrespeito, é horrível”, resmungava a aposentada Bernadete Silva, de 72 anos, enquanto saía da estação de Bus Rapid Transit (BRT) do Derby, no centro do Recife. Os funcionários das estações estão se acostumando com as reclamações dos passageiros que trafegam pelo local. Como se já não bastasse os tradicionais problemas como superlotação e insegurança, os usuários agora se queixam do novo modelo de catraca instalado nas estações de BRT.
A catraca é maior, com “borboletas” na parte inferior e superior. A estrutura é mais apertada e exige maior força para girar. É comum ver pessoas mais gordas ou carregando mochilas tendo dificuldades para passar. “Os pequenos são sempre o que sofrem”, resumiu Bernadete enquanto se afastava apressada.
Na época da primeira instalação, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Pernambuco (Urbana-PE) informou que a medida tinha o objetivo de impedir que pessoas entrassem nas estações pulando as catracas, passando por baixo ou entrando juntamente com outro passageiro. Desta vez, o Grande Recife Consórcio de Transportes foi quem respondeu ao LeiaJá. O órgão informou que as catracas estão sendo trocadas devido ao mau uso do equipamento. “Juntamente aos vidros, as catracas são alvos constantes da ação de vândalos, o que facilita ainda a entrada irregular de passageiros. Por isso, equipamentos mais robustos, similares aos utilizados nos ônibus, estão sendo instalados nas estações”, disse o Grande Recife em nota, apesar da similaridade com as catracas dos ônibus não ser tão evidente.
Uma das fragilidades da medida é que a principal forma de invasão das estações de BRT é pelo lado externo. Ou seja, quando o ônibus está se aproximando, os burladores sobem na estação pelo lado de fora, sem precisar passar pela catraca. Partindo disso, o mais prejudicado com a alteração seria o usuário que costuma pagar corretamente. Quem percebe isso é o cobrador de ônibus Maurício José Barbosa, de 24 anos. “Eu vejo as pessoas entrando por fora. Não vejo pulando a catraca”. Ele, porém, evitou tecer maiores críticas. “Não senti que interferiu muito para mim. Pessoas com mochila têm maiores dificuldades, mas acho que essa mudança tem um lado bom”, o cobrador opinou.
Na Estação do Derby, os funcionários estavam abrindo uma entrada alternativa, utilizada principalmente para a passagem de pessoas com dificuldade de locomoção e idosos. Os operadores permitiam a passagem pela entrada alternativa para gestantes, idosos e usuários com sacolas grandes, assim, a catraca era girada pelo próprio funcionário enquanto o passageiro passava sem maior esforço. Segundo um funcionário, essa foi uma determinação emitida por superiores. Entretanto, o fluxo impede que eles consigam atender a todos que preencham esses requisitos. A reportagem visualizou uma grávida de oito meses tendo que se apertar no equipamento.
“Não gostei da nova catraca. É muito apertado, era melhor da outra forma”, explicou a gestante e decoradora Ana Carolina da Silva, de 30 anos. A técnica em segurança do trabalho Júlia Esteves, de 24 anos, costuma pegar o BRT na Estação Cordeiro, na Zona Oeste da capital. Júlia é mais uma a tecer críticas. “As catracas muitas vezes causam constrangimentos a quem está tentando acessar o local, deixando os passageiros ou seus pertences presos na estrutura. A mudança realizada não foi pensada na quantidade de pessoas que entram e saem, muito menos nos seus biotipos corporais”, ressalta Esteves.
Procuramos o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e descobriu que já existe uma investigação no órgão sobre o modelo de catraca. Segundo o MPPE, cidadãos protocolaram denúncias, o que ensejou a abertura de um procedimento investigativo em 2018. Como a apuração está em curso, o MPPE não deu maiores detalhes. O Programa de Orientação ao Consumidor de Pernambuco (Procon-PE) também foi procurado pela Reportagem, mas o órgão informou não ter registros da questão.
As linhas do BRT estão incluídas no Anel A do sistema de transporte público da Região Metropolitana do Recife (RMR), com valor de tarifa de R$ 3,20. Neste mês de janeiro está sendo discutida a recomposição tarifária dos ônibus, tendo a definição de reajuste sido adiada duas vezes por decisões judiciais. A Urbana-PE defende um aumento de 16,18%, saltando o valor do Anel A para R$ 3,70. A proposta do Governo de Pernambuco, através do Grande Recife Consórcio de Transporte, é de 7,07%, com o Anel A aumentando para R$ 3,45. Outra proposta oficializada é a de conselheiros da sociedade civil do Conselho Superior de Transporte Metropolitano (CSTM), que pedem redução da passagem para R$ 2,90.
fonte: Leia Já