Ônibus e BRTs perderão corredor na Avenida Conde da Boa Vista
O segundo dia da séria A Nova Conde da Boa Vista mostra as mudanças para o transporte público, que tem na avenida um dos principais corredores do sistema em toda Região Metropolitana. No projeto, ônibus convencionais e BRTs vão perder o corredor e voltar a se misturar aos carros. Mas o município garante que, mesmo assim, terão ganho de velocidade.
A circulação do transporte público será, entre todas, a que mais passará por mudanças no novo projeto da Avenida Conde da Boa Vista, no Centro do Recife. Nas promessas da gestão municipal, não haverá mais um corredor para os ônibus convencionais e os BRTs. Na verdade, eles deverão dominar a circulação na via, já que 50% das pessoas que passam diariamente pelo corredor chegam e saem nos coletivos. A lógica é que os ônibus convencionais circulem à direita e os BRTs à esquerda da avenida. Os carros e motos que atualmente trafegam numa única faixa, sempre à direita da via, não terão mais esse espaço exclusivo. Voltarão no tempo, antes da reforma de 2008, quando disputavam espaço com os coletivos.
Essa briga por espaço entre ônibus, BRTs e veículos particulares deverá ser, inclusive, mais um obstáculo para desestimular a presença de automóveis, motos e caminhões no corredor após as mudanças. É o que diz a lógica da Prefeitura do Recife. A ideia do município é que os veículos particulares usem as vias do entorno no lugar da avenida. O projeto prevê que os pontos de embarque e desembarque dos ônibus convencionais retornem às calçadas e sejam aumentados de 14 para 20 paradas. Já os BRTs terão as estações construídas no canteiro central, que será verde e ocupará toda a extensão da avenida – 1,6 quilômetro.
As seis estações de embarque e desembarque do sistema, que desde 2017 operam no improviso e na precariedade, serão reduzidas a duas centrais, instaladas nas imediações da Rua da Soledade e da Rua Gervásio Pires. As unidades seguirão o modelo adotado pelo sistema nos Corredores Norte-Sul e Leste-Oeste e serão amplas, como as instaladas na Avenida Guararapes e na Praça do Derby. Terão quatro metros de largura e 60 metros de comprimento. Pelo projeto apresentado, o design é que mudará um pouco e será semelhante à estação reconstruída após sofrer danos de caminhões, em frente à Prefeitura do Recife, no Cais do Apolo. Elas terão a cobertura estreita para evitar futuros danos.
“Das 310 mil pessoas que diariamente circulam pela Avenida Conde da Boa Vista, 155 mil estão no transporte público. Ou seja, há razões de sobra para que ele tenha total prioridade na via. Nosso objetivo ao decidir pela transferência das paradas convencionais para a direita e pela permanência das estações de BRT no centro da via foi dar velocidade operacional a eles. A avenida será prioritariamente dos ônibus e BRTs”, argumenta a presidente da Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU), Taciana Ferreira.
A decisão de manter os ônibus convencionais circulando na Conde da Boa Vista teve embasamento técnico. Uma pesquisa de origem e destino em 51 linhas que há três anos operavam no corredor, hoje reduzidas para 49 ligações. A pesquisa foi feita pela Secretaria das Cidades e coordenado pelo professor Maurício Pina, especialista em transporte público que ensina na Universidade Federal de Pernambuco e na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). A principal conclusão do estudo foi que seria impossível reduzir o número de linhas convencionais na via, deixando o tráfego exclusivo ou prioritário para os BRTs.
“O percentual de interesse na Conde da Boa Vista é muito grande entre as pessoas que utilizam as linhas que passam na via. É difícil ignorá-lo. Embora a avenida represente apenas 6% da extensão de muitas das linhas que se dirigem ao corredor, ela é o destino principal de 35%, em média, dos passageiros que usam essas linhas. Há casos em que a avenida representa o destino de 83% dos passageiros”, pondera o professor Maurício Pina.
A força do transporte público na Avenida Conde da Boa Vista, de fato, é incontestável. Além das linhas de ônibus convencionais, quatro linhas de BRT passam na avenida, que recebe 180 ônibus por hora nos horários de pico. Mais de 150 mil pessoas chegam à Conde da Boa Vista de ônibus, sendo que 80% estão nos ônibus convencionais e 20% nos BRTs. “Por isso não podemos deixar apenas os BRTs circulando”, reforça Maurício Pina.