A lição de cidadania de Willington
Motorista parou ônibus para pedir que passageiros cedessem assento para deficiente visual.
Atitude cidadã de Willington repercutiu de imediato nas redes sociais
A viagem seguiu. Mas a atitude cidadã de Willington repercutiu de imediato nas redes sociais. O professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Bruno Nogueira, fez uma publicação no Facebook relatando o que tinha visto. Estava admirado com a atitude do motorista. “Foi engraçado. Pouca gente viu porque o ônibus estava muito lotado. Só vi porque estava na catraca esperando o troco da minha passagem", contou Nogueira, cuja publicação teve mais de cinco mil curtidas e mais de dois mil compartilhamentos.
Ao saber pela Folha dos 15 minutos de fama, Willington ficou surpreso com a notícia. Não imaginava que sua atitude fosse fazer tanto sucesso. "Não fiz isso para aparecer na mídia ou para a empresa me dar algum tipo de gratificação. Fiz porque faz parte da minha essência tratar os outros bem", disse.
Acostumado a tratar todos os passageiros com um sorriso no rosto e uma cordialidade rara, Willington explicou que mesmo sabendo que os assentos preferenciais estavam ocupados por idosos, sabia do risco para o deficiente visual caso fizesse a viagem em pé. "Tem idoso que aguenta uma viagem toda em pé. Mas ele não enxerga. Minha preocupação era frear e ele se machucar", disse.
Com tantos obstáculos no meio do caminho, como engarrafamentos diários e impaciência de alguns usuários, nem sempre é fácil manter uma relação amigável com os passageiros. Mas ele tenta. Nunca discutiu com nenhum passageiro e procura fazer com que fiquem calmos, quando reclamam do trânsito ou da superlotação. “Lembro de uma passageira que não parava de reclamar e me xingar por causa do trânsito. Fiquei calado. E no final da viagem pedi desculpas por não poder solucionar o problema”.
Willington, que tem uma jornada de trabalho de 9h, sai de casa, em Camaragibe , às 4h30 para chegar a garagem da empresa. Recebe R$ 1,9 mil. É casado há 18 anos e tem duas filhas, de 6 e 15 anos. O dinheiro curto não é desculpa para insatisfação em casa ou no trabalho. A lição de que gentileza gera gentileza aprendeu com os pais. “Graças a Deus eles souberam me educar de forma exemplar. E hoje só faço repassar para as pessoas e minha família o ensinamento que tive", afirma.
Companheirismo
Parceira de Willington há quase dois anos, a cobradora Lenice de Jesus, 34 anos, mais conhecida como Mineira, trabalha com ele todos os dias. Ela estava no coletivo, na manhã de ontem, quando tudo aconteceu. Quando não está escalada para estar no mesmo ônibus, a alegria não é a mesma. “Apesar de não ter grande estatura, por ser baixinho, ele em um coração enorme. Uma pessoa muito bondosa. Chega dá vontade de ir trabalhar”, afirmou Mineira.
Segundo ela, Willington não hesita em ajudar os outros. “Às vezes até já conhece os passageiros e as apelidam de ‘vó’. Não se preocupa se a viagem vai demorar. Preocupa-se em atender bem as pessoas. Conversa com todas elas (passageiras). E elas gostam muito dele”, contou a cobradora, que revelou um talento do motorista. “Canta Zezé di Camargo e Luciano como ninguém. Se fizer um CD eu compro”, brincou.
Comportamento
Comportamento
O sociólogo Ricardo Santiago, que utiliza ônibus diariamente para ir à universidade, acredita que a cegueira é uma das deficiências que mais chamam a atenção. “Isso provoca um grande sentimento de empatia. As pessoas olham com impotência diante de uma situação como a que aconteceu ontem”, explicou Santiago. Ele ainda ressaltou que, sem dúvida, os motoristas recebem orientações e treinamentos para terem comportamentos exemplares – embora a maioria não tenha, ressaltou. Ainda de acordo com o sociólogo, por chamar atenção da população, motoristas tendem a ter um ato de solidariedade imediato. “Certas situações humanas chamam mais atenção e constrangem mais do que outras”, opinou Santiago.
Passageiros
Passageiros
Quem pega ônibus diariamente acredita que um simples gesto de educação pode tornar o dia melhor. É o caso da estudante Maria das Dores, 19 anos, que utiliza o transporte público para ir à faculdade. "Nunca tive a sorte de fazer uma viagem com um motorista simpático. Normalmente, eles são secos", contou a jovem. Para a turismóloga Manuela Simas, 29 anos, ser gentil faz a diferença. "A gente já corre tanto no dia a dia que espera um gesto gentil dos motoristas. Mas deve ter sido uma situação muito engraçada", opinou Manuela.
fonte : Folha pe