23/05/2013 03h09
- Atualizado em
23/05/2013 03h31
G1 testou: acesso à Arena PE é reprovado por torcedores
Público relatou problemas para chegar e sair do estádio, no Grande Recife.
Amistoso entre Náutico e Sporting (Portugal) marcou abertura do estádio.
Alexandre Morais, Luna Markman e Priscila Miranda
Do G1 PE
Na volta para casa, longa fila até pegar o circular para a Estação Cosme Damião (Foto: Priscila Miranda / G1)
O acesso à Arena
Pernambuco, em São Lourenço da Mata, Grande Recife, foi reprovado por torcedores ouvidos pelo
G1.
Eles foram assistir ao amistoso entre Náutico e Sporting (de Portugal),
na noite desta quarta (22), partida que marcou a abertura do estádio ao
público. Filas intermináveis para chegar e sair do local, trânsito
lento, lotação nas estações do metrô e dificuldade para pegar ônibus e
táxis estão entre as principais queixas. Muitos chegaram ao campo no fim
do jogo e outros desistiram no meio da viagem. Já a volta para casa
atravessou a madrugada desta quinta-feira (23).
O metrô está parecendo uma lata de sardinhas. Só não está pior porque tem ar-condicionado"
Glícia Barbosa, passageira do metrô
Para testar o plano de mobilidade, a reportagem do
G1
se misturou aos torcedores e foi até o estádio de ônibus, metrô e táxi.
Partindo de três pontos da capital pernambucana – Zona Norte, área
central e Zona Sul -, foi possível avaliar os diferentes meios de
transporte que levam ao município de São Lourenço da Mata, Região
Metropolitana do
Recife,
onde está situado o estádio que vai receber as partidas oficiais da
Fifa. Milhares de brasileiros e turistas vão utilizá-los, já no próximo
mês, durante os jogos da Copa das Confederações. Confira abaixo o teste
de cada serviço.
Metrô comparado a ‘lata de sardinhas’
A viagem de metrô da Zona Sul do Recife até a Arena Pernambuco durou
pouco mais de duas horas. A reportagem do G1 chegou à estação Aeroporto
por volta das 18h. O embarque atrasou devido à desorganização nas filas
da bilheteria. Inaugurada recentemente, a plataforma está posicionada
bem em frente ao aeroporto da cidade, no bairro da Imbiribeira. Uma
passarela está sendo construída no local para ligar o terminal aéreo à
Linha Sul do metrô; no entanto, o equipamento não vai ficar pronto para a
Copa das Confederações. A nova estrutura, que vai passar sobre a
Avenida Mascarenhas de Morais e Rua Barão de Souza Leão, só deve ser
aberta em setembro, conforme a Secretaria das Cidades. Por enquanto,
quem desembarca no aeroporto tem que cruzar a avenida pela faixa de
pedestres.
COPA DAS CONFEDERAÇÕES
Jogos na Arena Pernambuco |
16/06 |
19h |
Espanha x Uruguai |
19/06 |
19h |
Japão x Itália |
23/06 |
16h |
Uruguai x Taiti |
Fonte: Fifa |
Quem é turista ou não conhece bem a capital pernambucana deve ficar
atento. As estações da Linha Sul ficam a cerca de 3 quilômetros da
Avenida Boa Viagem, um dos principais cartões-postais da cidade e onde
estão situados a maioria dos hotéis, pousadas e albergues. Por isso, se
você estiver hospedado na orla e não quiser a fazer essa caminhada,
deverá pegar um ônibus até o metrô. Apesar da proximidade do início dos
jogos, grande parte das paradas de coletivos do bairro está depredada ou
não possui painéis com informações sobre linhas e destinos. Ou seja,
antes de deixar o hotel, deve-se pedir ajuda na recepção, porque
encontrar um fiscal nos pontos de ônibus é tarefa praticamente
impossível.
O bilhete do metrô que leva até a Arena custa R$ 1,60. Cartazes exibem a
tarifa e o mapa das estações, porém as informações estão apenas em
língua portuguesa. Nem nas bilheterias nem nas plataformas de embarque
há panfletos ou placas com dados em inglês ou espanhol. Entre a entrada
na estação Aeroporto e o embarque em uma das composições, a reportagem
esperou 18 minutos. Partindo de lá, são 17 estações até o estádio:
Tancredo Neves, Shopping, Antônio Falcão, Imbiribeira, Largo da Paz,
Joana Bezerra, Afogados, Ipiranga, Mangueira, Santa Luzia, Werneck,
Barro, Tejipió, Coqueiral, Alto do Céu, Curado e Rodoviária.
Metrô lotado no caminho para a Arena
Pernambuco (Foto: Alexandre Morais / G1)
Do Aeroporto até Joana Bezerra, onde é feita a baldeação para a Linha
Centro, foram 16 minutos de viagem. É preciso ficar atento aos nomes das
estações porque não há avisos sonoros. Diferentemente das novas
plataformas da Linha Sul, a estação Joana Bezerra tem várias placas
danificadas, paredes sujas e mural de informações incompleto. A viagem,
que seguia tranquila até o local, ficou tumultuada com a proximidade do
horário de pico. Dezenas de passageiros, que largavam do trabalho, se
juntaram aos torcedores. Muita gente fez o trajeto até a Arena em pé.
Apesar disso, as composições são bem conservadas e possuem
ar-condicionado.
Na Joana Bezerra, a espera pela composição foi de 10 minutos. Até o
desembarque na estação Cosme e Damião, próxima ao estádio, foram mais 50
minutos. Um das passageiras, Glícia Barbosa, estava a caminho da Arena
com um grupo de nove amigos. "A gente se perdeu após o embarque na Joana
Bezerra. O metrô está parecendo uma lata de sardinhas. Só não está pior
porque tem ar-condicionado", disse. Outro usuário, Iraquitan José
Lupercínio, comentou que a lotação ocorre diariamente. "Mesmo com os
torcedores hoje [quarta], eu achei ontem [terça] mais cheio. Isso aqui é
um sufoco. Uso o metrô todos os dias para ir e voltar de Camaragibe até
o centro do Recife." A Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo de
2014 já anunciou que, no Grande Recife, os dias de jogos serão ponto
facultativo, cabendo às empresas decidir se seus funcionários terão
folga ou não.
Público acompanha primeiro jogo profissional na Arena PE, que terminou Náutico 1x1 Sporting (Foto: Luna Markman / G1)
Na estação Cosme e Damião, foram disponibilizados ônibus gratuitos até o
estádio, mediante a apresentação do ingresso da partida. Do local até a
Arena foram mais 6 minutos em uma estrada escura e aparentemente
inacabada. No coletivo, os amigos Edilson Xavier e Karina Kelner
expressavam preocupação em relação à volta para casa. "Espero que tenha
ônibus até a estação, nem sei como vamos fazer, a gente vai decidir na
hora", disse ela. "Nós pegamos carona até a Joana Bezerra e embarcamos
lá, viemos espremidos, ela veio quase flutuando", contou ele.
Junto com os torcedores, o
G1 desembarcou dos ônibus e
ainda precisou andar alguns metros para chegar à Arena. No local, havia
monitores para informar os sentidos dos portões, mas foi preciso falar
com quatro pessoas para descobrir que a entrada de imprensa poderia ser
feita pelos setores C e D. Desfeito o nó, a reportagem finalmente pode
ter acesso ao campo e ver os minutos iniciais do amistoso.
Vou emoldurar meu ingresso e, da próxima vez, tentar sair mais cedo"
Evandro Vilarinho, torcedor que desistiu
de ir à Arena Pernambuco
Sem ônibus direto para estádio
Ir de ônibus à Arena partindo do Centro do Recife, às 18h, horário em
que geralmente as pessoas largam do trabalho naquela região, não é a
melhor opção. Não há linha que leve o torcedor diretamente ao estádio ou
à estação Cosme e Damião, de onde partiram circulares gratuitos. Apenas
uma linha, Curado 4, leva até o Terminal Integrado de Passageiros
(TIP). Inclusive, se o passageiro ligar para o serviço 0800-081-0158 do
Grande Recife Consórcio de Transporte ou pedir informação no terminal do
Cais de Santa Rita, a orientação será ir até a Estação de Metrô Central
do Recife, onde a viagem até o TIP dura, em média, 50 minutos. É bom
lembrar que o 0800 só pode ser acessado por telefone fixo, das 7h às
19h, e não há atendimento em um segundo idioma.
Espera por ônibus no Centro do Recife durou 47 minutos
(Foto: Luna Markman / G1)
Em segundo lugar, a espera pelo coletivo pode ser bem grande. O
G1
esperou 47 minutos pelo Curado 4 na parada em frente aos Correios, na
Avenida Guararapes. Os passageiros da linha relatam intervalos entre 30
minutos e uma hora. A passagem custa R$ 2,75 (anel D). O preço vai ser
reduzido para R$ 2,25 (anel A) a partir de 22 de maio. A boa notícia é
que tinha lugar para sentar. Foi mais uma hora até chegar ao TIP,
enfrentando congestionamento em corredores movimentados do Recife, como
as avenidas Conde da Boa Vista, Agamenon Magalhães e Abdias de Carvalho.
No TIP, o
G1 encontrou muitos
torcedores atrasados, a caminho da Arena, com a partida já rolando.
Outros desistiram de assistir à estreia do time alvirrubro, como o
militar Evandro Vilarinho e a esposa Rosângela. Ela chegou tranquila no
TIP, partido de ônibus do Shopping Recife e pegando metrô na estação
Estância. A viagem durou cerca de 40 minutos. “Não tive a mesma sorte.
Saí de Santo Amaro [no Centro do Recife], por volta das 17h30, peguei
muito trânsito, tentei deixar meu carro no Parqtel [estacionamento
privado em São Lourenço], não sabia que tinha que comprar a vaga antes,
então só consegui estacionar aqui no TIP. Vou emoldurar meu ingresso e,
da próxima vez, tentar sair mais cedo”, lamentou.
Não faço questão de levar passageiro nenhum à Arena. Não vale a pena pegar um trânsito terrível"
Gilson Gonçalves, taxista
Taxistas recusam passageiros
Conforme as normas de segurança da Fifa, os táxis não têm acesso direto
à Arena. Para realizar o embarque e desembarque de passageiros, esses
motoristas tiveram que parar no Terminal Integrado de Passageiros (TIP)
pois, se tentassem desembarcar ao longo da BR-408, estariam sujeitos à
multa. Com a restrição, muitos reclamaram da inviabilidade de levar
passageiros ao jogo. “Eu achei péssimo [o sistema], porque a gente acaba
pegando uma corrida de apenas R$ 17 e não deixa o passageiro na Arena,
desembarca ele praticamente em
São Lourenço da Mata”, disse o taxista Fernando Luiz da Silva.
Antes de ligar para uma cooperativa, o
G1 tentou
embarcar em um táxi comum em um ponto localizado no Shopping Plaza, no
bairro de Casa Forte, Zona Norte do Recife, mas não conseguiu. “A gente
está sendo discriminado com esse sistema. Eu mesmo não faço questão de
levar passageiro nenhum à Arena. Não vale a pena pegar um trânsito
terrível”, afirmou o taxista Gilson Gonçalves. Outro profissional também
se negou a realizar a corrida. “É uma injustiça o que está sendo feito
com os taxistas, isso também é um serviço de utilidade pública. Fica
muito complicado levar o cliente para lá”, protestou Cláudio Amorim.
Engarrafamento foi intenso no bairro de Casa Forte,
no Recife (Foto: Priscila Miranda / G1)
Na Zona Norte do Recife, o táxi foi solicitado às 17h35 pela
reportagem. Por causa do trânsito intenso na área, o veículo só chegou
ao shopping às 18h35, exatamente uma hora depois do pedido. Ao ser
questionado sobre o trajeto, o taxista disse desconhecer a restrição
imposta aos veículos nas proximidades da Arena. No caminho até a BR-101,
pelas Avenidas 17 de Agosto e Apipucos, a reportagem enfrentou
retenções no trânsito. Ao chegar à rodovia, o tráfego diminuiu, mas até a
BR-408 foram registrados novos congestionamentos.
Antes de chegar ao TIP, o taxista parou para perguntar a um policial
rodoviário federal onde estava sendo feito o desembarque. O táxi chegou
ao ponto do terminal exatamente às 19h20. A corrida custou R$ 41,91, na
bandeira 1. De lá, a reportagem pegou o metrô e desembarcou na estação
Cosme e Damião para pegar o ônibus circular que deixa os torcedores na
Arena. O
G1 entrou no estádio às 20h20, quando a partida entre Náutico e Sporting já havia começado.
Aos 45 do segundo tempo
Quatro jovens que saíram de Olinda de táxi, por volta das 18h, viveram
uma verdadeira aventura para chegar ao estádio. "Quando chegamos na
[avenida] Abdias de Carvalho [no Recife], estava muito trânsito, então
cortamos para ir até [à cidade vizinha] Camaragibe. Lá, não tinha placa
nenhuma dizendo como chegar à Arena ou a São Lourenço. Quando finalmente
chegamos na BR-408, nos deram informação errada e voltamos para Recife.
Depois, pegamos o caminho certo, mas o táxi foi barrado pela Polícia
Rodoviária, que foi super grosseira, dizendo que não passava ninguém
ali", contou Pedro Rocha.
Grupo de amigos que se perdeu para chegar à Arena PE
e pagou R$ 120 pelo táxi (Foto: Luna Markman / G1)
O taxista deixou os jovens no TIP, após uma corrida que custou R$ 120.
Cada ingresso foi comprado por R$ 60. "O pior é que eu ainda estou com o
bilhete da minha amiga, que desistiu de me esperar e foi embora pra
casa, arretada comigo, com toda razão. Da próxima vez, eu não venho
mais", lamentou Marília Brito. O grupo de amigos pegou o metrô por volta
das 21h15, parando na estação Cosme Damião. De lá, pegaram rapidamente
um circular gratuito para a Arena, onde só conseguiram sentar na
arquibancada às 21h45. "Eu acho que a gente tem que se mudar aqui para
São Lourenço, porque desse jeito não dá. Imagina um turista, ia se
perder muito mais que a gente", comentou Gabriella Bandeira.
Para os jovens, faltou sinalização nas vias que dão acesso ao estádio.
"A gente só não desistiu porque é o Náutico, e também porque já tínhamos
comprado o ingresso, queria pelo menos ver a cor do gramado", brincou
Pedro. Por sorte, o grupo conseguiu ver o lance mais importante do jogo,
o gol de Elton, que empatou o placar com o time português já no final
da partida. "Até que valeu a pena", falou, com um sorriso enorme,
Marília, aquela que disse nunca mais iria ao estádio. Será?
É preciso melhorar muito esse sistema de escoamento. O governo precisa
tomar medidas mais eficientes e não jogar essa responsabilidade para
agentes privados que vão cobrar caro em estacionamentos"
Fábio Rodrigues, torcedor
Engarrafamento de gente na volta
A saída da Arena Pernambuco foi marcada por uma fila quilométrica e
entrou pela madrugada desta quinta-feira (23). Como a organização
disponibilizou um único corredor para quem ia pegar metrô, ônibus e
táxi, o que se viu foi um engarrafamento de gente. Todos tentavam pegar o
ônibus circular que levava até a estação Cosme e Damião.
“Foi muito desorganizado. Já tínhamos enfrentado fila para comprar a
ficha da pipoca, depois, nova fila para pegá-la e agora outra fila para
pegar o ônibus”, disse o torcedor João Paulo Ribeiro, que foi ao estádio
acompanhado da namorada Ana Carina Lima e de amigos. O também torcedor
do Náutico Carmelo Carneiro Leão reclamou do cansaço. “Se as outras
partidas forem assim, não volto mais. Uma sugestão é os clubes
disponibilizarem ônibus fretados para os torcedores virem para a Arena,
porque é muito longe e difícil de chegar”, comentou.
César Russa, torcedor português, reclama da chegada à
Arena PE (Foto: Priscila Miranda / G1)
O corretor de imóveis Fábio Rodrigues já estava esgotado de tanta fila
quando pegou a última, no TIP, para pagar o estacionamento e voltar para
casa. “Foi fila para pegar metrô, para ir à estação Cosme e Damião,
outra para pegar o ônibus até à Arena. Tudo bem que não demorou muito,
nem na fila para entrar mesmo no estádio. Mas depois, você cansado,
pegar mais fila e aperto no caminho inverso é complicado, fora que só
tem uma pessoa para nos atender aqui no caixa de pagamento. É preciso
melhorar muito esse sistema de escoamento. O governo precisa tomar
medidas mais eficientes e não jogar essa responsabilidade para agentes
privados que vão cobrar caro em estacionamentos, por exemplo”, analisou.
O engenheiro português César Russa mora há apenas um mês e meio em
Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife. Ele acredita que a distância
da Arena da capital vai afastar torcedores. “Foi isso que aconteceu na
cidade onde morava, no Algarve. Construíram um estádio para a Eurocopa
2004 longe do centro. Tinha até ônibus, mas a população estava
acostumada a ir para jogo perto de casa, então o interesse foi caindo e
nenhum time mais joga lá. E aqui a viagem foi longa, cansativa, acho que
vai acabar acontecendo o mesmo”, opinou.
Apesar das reclamações sobre o acesso, outros pontos foram bem
avaliados pelo público, como segurança e iluminação no entorno do
estádio. A Secretaria de Defesa Social informou que não houve registro
de problemas. A Polícia Rodoviária Federal também não registrou
ocorrências no perímetro, apenas retenções nas proximidades do
estacionamento privado Parqtel.