Visão do TI da IV Perimetral é quase apocalíptica de total abandono (Foto: Thays Estarque/G1)
Dos 25 novos terminais integrados (TIs) prometidos à população pelo governo do estado na Região Metropolitana do Recife, seis foram definitivamente esquecidos pelo poder público. As obras, que deveriam ter sido concluídas em 2014, seguem paradas e entregues à ação do tempo. Praticamente dois anos após o prazo previsto para conclusão, o que se vê, na maioria dos casos, são verdadeiros cemitérios de concreto. O G1 percorreu essas seis construções e pôde constatar um total abandono, com focos do Aedes aegypti, pontos de consumo de drogas e até um terminal transformado em pasto. Enquanto isso, passageiros não têm acesso às melhorias prometidas no transporte público.
Na placa, erguida na frente dos Terminais Integrados de ônibus da III e IV Perimetral, na Avenida Caxangá, na Zona Oeste do Recife, uma previsão: término da obra em novembro de 2014. O que seria, na sua concepção, uma explicação para o usuário acabou se transformando em um motivo de revolta e insatisfação.
Do lado de fora, reclamações e questionamentos dos passageiros sobre o porquê da construção estar parada. Dentro, encoberto por tapumes e longe dos olhos da sociedade, entre as depredações, focos do Aedes aegypti e ponto de uso de drogas.
Do lado de fora, reclamações e questionamentos dos passageiros sobre o porquê da construção estar parada. Dentro, encoberto por tapumes e longe dos olhos da sociedade, entre as depredações, focos do Aedes aegypti e ponto de uso de drogas.
São terminais quase ou totalmente prontos para receber a população que estão sendo consumidos pela ação do tempo. O investimento total para as obras da III e IV perimetrais, por exemplo, chegou a R$ 9 milhões. Se já estivessem prontoa, atenderiam, respectivamente, cerca de 40 mil e 53 mil pessoal diariamente.
Telhas de aço e materiais para acamendo de obra estão amontoados no chão do TI da III Perimetral (Foto: Thays Estarque/G1)
III Perimetral
Telhas de aço e alguns materiais para acabamento de obra amontoados no chão evidenciam que aquele lugar parou pouco antes de ser entregue aos usuários do transporte público. Até a parte que já foi concluída acaba se deteriorando. É meio-fio pintado, portas, janelas e fiação para lâmpadas instaladas e, em contraponto, muito lixo, mato alto, ferragens expostas e água parada.
Telhas de aço e alguns materiais para acabamento de obra amontoados no chão evidenciam que aquele lugar parou pouco antes de ser entregue aos usuários do transporte público. Até a parte que já foi concluída acaba se deteriorando. É meio-fio pintado, portas, janelas e fiação para lâmpadas instaladas e, em contraponto, muito lixo, mato alto, ferragens expostas e água parada.
Duas grandes cisternas servem de criadouro de
mosquito no TI da III Perimetral
(Foto: Thays Estarque/G1)
mosquito no TI da III Perimetral
(Foto: Thays Estarque/G1)
Uma vigilante, que preferiu não se identificar, fez questão de mostrar duas grandes cisternas. Entre um saco de lixo e outro, era possível ver muitas larvas de mosquitos. “Trabalhamos com medo de pegar uma dessas doenças [dengue, chikungunya e vírus da zika]. Não temos o que fazer, temos que trabalhar, mas é uma vergonha como cidadã ver o que acontece aqui”, desabafa.
Enquanto isso, os passageiros precisam se espremer no espaço entre o muro do terminal e a rua, em um ponto de ônibus deteriorado. A consultora de vendas, Bruna Gomes, 24 anos, trabalha bem em frente à lll Perimetral, mas precisa caminhar cerca de 30 minutos para chegar ao serviço. “Esse terminal ia facilitar minha vida e de outras pessoas. A gente paga imposto para ver isso parado? É difícil, é um descaso com o povo”, reclama.
Com 67 anos, 23 deles dedicados ao trabalho de chaveiro, Osias Araújo tem que dividir seu tempo entre passar repelente e fazer uma chave. Com seu estabelecimento colado ao muro do terminal, ele se torna um alvo fácil para os mosquitos. “Veja como está o capim e o lixo. Minha filha teme por mim. Ela compra esses repelentes para eu passar, porque imagina se eu pego uma dessas doenças do Aedes aegypti. Passo o dia todo pensando em pôr o repelente. Tenho medo”, destaca.
Enquanto isso, os passageiros precisam se espremer no espaço entre o muro do terminal e a rua, em um ponto de ônibus deteriorado. A consultora de vendas, Bruna Gomes, 24 anos, trabalha bem em frente à lll Perimetral, mas precisa caminhar cerca de 30 minutos para chegar ao serviço. “Esse terminal ia facilitar minha vida e de outras pessoas. A gente paga imposto para ver isso parado? É difícil, é um descaso com o povo”, reclama.
Com 67 anos, 23 deles dedicados ao trabalho de chaveiro, Osias Araújo tem que dividir seu tempo entre passar repelente e fazer uma chave. Com seu estabelecimento colado ao muro do terminal, ele se torna um alvo fácil para os mosquitos. “Veja como está o capim e o lixo. Minha filha teme por mim. Ela compra esses repelentes para eu passar, porque imagina se eu pego uma dessas doenças do Aedes aegypti. Passo o dia todo pensando em pôr o repelente. Tenho medo”, destaca.
TI da IV Perimetral está totalmente abandonado e deteriorado (Foto: Thays Estarque/G1)
IV Perimetral
Se na III Perimetral a situação é ruim, no IV beira o absurdo. Tubos de cola, pratos de comida e roupas espalhadas pelo local indicam que, além do grande acúmulo de lixo, o espaço também se tornou ponto de consumo de drogas e moradia de pessoas em situação de rua. Até preservativos usados foram encontrados jogados em diversas partes do terminal. Compondo o cenário de destruição, uma cama carbonizada é vista bem no meio do pátio, onde passariam os coletivos.
Se na III Perimetral a situação é ruim, no IV beira o absurdo. Tubos de cola, pratos de comida e roupas espalhadas pelo local indicam que, além do grande acúmulo de lixo, o espaço também se tornou ponto de consumo de drogas e moradia de pessoas em situação de rua. Até preservativos usados foram encontrados jogados em diversas partes do terminal. Compondo o cenário de destruição, uma cama carbonizada é vista bem no meio do pátio, onde passariam os coletivos.
Placa improvisada parece não surtir efeito e salas
são transformadas em abrigo e banheiro
(Foto: Thays Estarque/G1)
são transformadas em abrigo e banheiro
(Foto: Thays Estarque/G1)
O que deveria ser um ambiente organizado e funcional para o usuário de transporte público se tornou um grande cemitério de concreto, fiação exposta e ferragens.
Em uma das salas, onde funcionaria o setor administrativo, uma placa improvisada com os dizeres: “Não entre”. No entanto, o aviso parece não surtir efeito. Em outras salas, fezes se misturam com restos de cigarros e centenas de palitos de fósforos. O odor forte é predominante em todo terminal.
Na ocasião, nenhum vigilante foi visto. Um possível foco de Aedes aegypti também foi notado na IV Perimetral. A água fica acumulada em um espaço de uma das fundações. Em contraponto, um pedaço de papel destoa da cena apocalíptica. Colado em uma pilastra, a última vistoria realizada pelo Programa de Saúde Ambiental do Recife, em dezembro do ano passado.
Em uma das salas, onde funcionaria o setor administrativo, uma placa improvisada com os dizeres: “Não entre”. No entanto, o aviso parece não surtir efeito. Em outras salas, fezes se misturam com restos de cigarros e centenas de palitos de fósforos. O odor forte é predominante em todo terminal.
Na ocasião, nenhum vigilante foi visto. Um possível foco de Aedes aegypti também foi notado na IV Perimetral. A água fica acumulada em um espaço de uma das fundações. Em contraponto, um pedaço de papel destoa da cena apocalíptica. Colado em uma pilastra, a última vistoria realizada pelo Programa de Saúde Ambiental do Recife, em dezembro do ano passado.
Fezes se misturam com restos de cigarros e centenas de palitos de fósforos onde deveria ser o setor administrativo do terminal (Foto: Thays Estarque/G1)
Com lágrimas nos olhos, a aposentada Geraldina Ferreira, 78 anos, é o retrato de tristeza, revolta e medo dos usuários. Com dificuldade para andar, lamenta não ter um local seguro e adequado para pegar o ônibus e visitar sua filha.
“Pegando os ônibus [do lado de fora] eu posso cair, me machucar. Tenho medo de atravessar a rua e um carro me atropelar. Se tivesse um terminal eu poderia saltar com calma e me sentar. É muito triste isso”, diz chorando.
Carregando o pequeno Isack de apenas seis meses nos braços, a dona de casa Rafaela da Silva, 26 anos, comenta que não passa pelo lugar à noite. “Arrisco-me a ser assaltada e estuprada. Não vejo ninguém olhando essa obra, eles [vigilantes] só chegam à noite e não é todo dia”, reclama. Rafaela enfatiza que tanto o terminal quanto o seu entorno são pouco policiados. [Veja vídeo abaixo]
Respostas
O G1 e a TV Globo solicitaram entrevistas com algum representante da Secretaria das Cidades para falar sobre os problemas verificados nos TIs. A pasta, no entanto, preferiu se manifestar através de nota. De acordo com texto, os terminais da Caxangá fazem parte do pacote de obras do corredor Leste/Oeste, que também aguarda levantamento dos serviços inacabados.
“Passada essa fase, a previsão é de que em entre maio e junho deste ano já seja possível iniciar processo licitatório para continuidade das obras. Isso porque, em 2015, houve rescisão unilateral e aplicação de multa contratual ao consórcio construtor Mendes Jr/Servix (responsável pelo corredor de BRT Leste/Oeste), por abandono das obras e quebra de contrato. A Secretaria das Cidades (Secid) contratou, então, a empresa projetista Policonsult para fazer o levantamento do remanescente”, disse a nota enviada.
O G1 e a TV Globo solicitaram entrevistas com algum representante da Secretaria das Cidades para falar sobre os problemas verificados nos TIs. A pasta, no entanto, preferiu se manifestar através de nota. De acordo com texto, os terminais da Caxangá fazem parte do pacote de obras do corredor Leste/Oeste, que também aguarda levantamento dos serviços inacabados.
“Passada essa fase, a previsão é de que em entre maio e junho deste ano já seja possível iniciar processo licitatório para continuidade das obras. Isso porque, em 2015, houve rescisão unilateral e aplicação de multa contratual ao consórcio construtor Mendes Jr/Servix (responsável pelo corredor de BRT Leste/Oeste), por abandono das obras e quebra de contrato. A Secretaria das Cidades (Secid) contratou, então, a empresa projetista Policonsult para fazer o levantamento do remanescente”, disse a nota enviada.
Informa, ainda, que já foram investidos nas obras R$ 6,4 milhões no Terminal Integrado da III Perimetral e R$ 8 milhões no da IV Perimetral. Segundo a Secid, não é possível informar ainda o valor final da obra, pois uma empresa será contratada para avaliar o remanescente. As obras dos terminais integrados começaram em fevereiro de 2013. A reportagem ainda não conseguiu contato com o consórcio Mendes Jr/Servix.
Já a Vigilância Ambiental do Recife informou que os agentes visitam as construções a cada 15 dias e dão orientações para eliminar os criadouroso do Aedes aegypti. Reforçou que para solicitar visitas, qualquer cidadão pode telefonar para a ouvidoria da Saúde no telefone: 0800.281.1520
Fonte:secretária das Cidades ,reportagem G1 PE