quinta-feira, 31 de março de 2016

Crise faz 20 milhões deixarem de usar ônibus Queda da demanda de passageiros na RMR foi de 5,21%, pior resultado da década e tendência em todo o Brasil


Aumento do desemprego, das tarifas e da inflação estão entre possíveis causas da fuga de usuários do transporte público, o que também impacta investimentos em melhorias
Os ônibus da Região Metropolitana do Recife transportaram 20,4 milhões de passageiros a menos em 2015. A queda foi de 5,21% em relação a 2014, a sétima pior entre 16 cidades. É o que revelam dados da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU). No País, a redução foi de 4,1%, com piores cenários em Curitiba e Goiânia (ver ar te).

    A grande vilã, crê o setor, é a crise financeira, que gerou desemprego e a impossibilidade de os passageiros assimilarem as tarifas. Como comprar e manter um veículo também é caro, não é difícil prever que as ruas são cada vez mais de quem busca alternativas de se locomover, a pé ou de bicicleta. O pior é que o quadro parece longe do fim. Em janeiro, na RMR, a evasão de usuários teve índice de 9,15%. Em fevereiro, de 6,75%.

    Arte/FolhaPE
    O autônomo Raimundo Bertoldo, 55 anos, tem percebido as dificuldades, mas ainda não pensou em recorrer a outra for ma de transporte. “Essa crise pega, principalmente, quem mais precisa de ônibus. A pessoa fica desempregada e não tem condição de ficar gastando passagem para procurar emprego. Uma coisa tem impacto na outra”, opina. Já a universitária Joana Dias, 29, acredita que o que houve mesmo foi a redução da frota. “Não senti diferença nessa questão de passageiros. A crise está aí, mas as pessoas precisam sair. A superlotação é que continua. É mais fácil as empresas terem diminuído o número de ônibus, porque a demora é grande.”

    CENÁRIO - No Brasil, o mau resultado equivale a menos 900 mil passageiros por dia. As cidades pesquisadas, 14 delas capitais, detêm quase dois terços das pessoas transportadas, o que dá uma ideia do impacto negativo. A queda, que ocorre pelo quarto ano seguido, é a maior da década no setor. “Vejo uma combinação de fatores. Com a crise, a pessoa nem sai para procurar emprego porque não acha. Ocorre o estímulo aos deslocamentos a pé. O imobilismo das cidades, com os congestionamentos, também frustra. Ou seja, é uma equação da qual é difícil sairmos ainda este ano”, avalia o presidente da NTU, Otávio Cunha. “Um caminho seriam alternativas de subvenção. Pegamos São Paulo e vemos que a redução de demanda foi pequena (0,9%). Lá, o poder público banca 30% da tarifa. O cidadão sente menos”, completa.
    O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Pernambuco (Urbana-PE), Fernando Bandeira, ressalta que o início de ano difícil também teve influência das férias e do Carnaval e acredita que o resultado pode ser revertido se investimentos em corredores exclusivos continuarem. Por outro lado, reconhece que o cenário pode comprometer investimentos. “Quando houve o realinhamento tarifário, não foi prevista essa queda. Com um déficit, é natural que a primeira providência seja fazer readequações, o que afeta a renovação de frota, inclusive porque as taxas de financiamento estão muito ruins”, diz, sem adiantar em que proporção as aquisições de ônibus podem ser prejudicadas.
    FONTE: FOLHA PE

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