quarta-feira, 3 de outubro de 2012

RECIFE: AGAMENON VAI MUDAR?SERÁ

http://www.old.diariodepernambuco.com.br/hotsite/2012/agamenon/transformacoes.shtml

As transformações urbanas

A implantação do futuro corredor Norte/Sul, que integrará os dois extremos do litoral do estado, por meio dos principais modais de transporte de massa - ônibus e metrô - será, na verdade, um resgate do que foi projetado pelo Plano Diretor de Transporte Urbano (PDTU), na década de 1970. O Norte/Sul é apenas um dos três corredores previstos para a Região Metropolitana do Recife. Com pistas exclusivas, o sistema no modelo BRT (sigla em inglês para Transporte Rápido por Ônibus) promete reduzir o tempo dos deslocamentos, mas precisará também oferecer uma melhor qualidade do serviço com a regularidade das viagens e mais conforto para o usuário. A expectativa é de que a imagem dos ônibus "sardinha", que não têm hora para chegar e estão sempre superlotados, passe a fazer parte do passado. Na quarta e última reportagem da série sobre a Agamenon Magalhães, o mais importante eixo urbano dentro do corredor Norte/Sul, vamos mostrar os impactos da transformação urbana, a preocupação de moradores e comerciantes e a posição das instituições ligadas ao planejamento urbano.

Mudanças no cenário

  • Supermercado Bompreço
    do Parque Amorim
  • Praça do Parque Amorim
  • Imóveis que serão desapropriados para o Viaduto da Bandeira Filho
  • Estacionamento da McDonald's que será reduzido


Não será fácil reimaginar o cenário da Avenida Agamenon Magalhães. Foram mais de quatro décadas lidando com o seu dia a dia dinâmico e, por vezes, congestionado. O modo de circulação da primeira perimetral do Recife irá mudar radicalmente para se adequar ao corredor Norte/Sul. As pistas exclusivas para o BRT, nos dois sentidos, vão ficar ao lado do canal central da via. Para garantir a velocidade do corredor, serão removidos os semáforos de quatro cruzamentos. Entram em cena os viadutos e as passarelas. Com estes equipamentos, a circulação na Agamenon Magalhães nunca mais será a mesma. E tanto motoristas como pedestres e ciclistas terão que reaprender os caminhos.

Depoimentos



"Durante as obras vai ser um transtorno e quem puder evitar a Agamenon será melhor, mas acredito que depois o trânsito ficará melhor do que é hoje"
Arlindo da Silva, 83 anos, taxista




"Vai ser um transtorno atrás do outro. E o pior é que a gente não sabe como isso tudo vai ficar e se vai funcionar"
Reginaldo dos Santos, 63 anos, taxista
Não apenas a circulação, mas também alguns hábitos e costumes serão modificados com o futuro cenário da avenida. Não fazer a travessia em nível, por exemplo, onde haverá passarela, é um deles. Morador do bairro da Boa Vista, o aposentado Antônio Alfredo, 68 anos, terá que buscar outro supermercado para fazer as compras de todos os dias. O local onde hoje está o supermercado Bompreço dará lugar à curva do viaduto da Bandeira Filho. Ao todo, 31 imóveis serão desapropriados. "Tudo por aqui vai ficar muito diferente. Eu espero que seja para melhor."

As mudanças trazem juntas as incertezas. O comerciante Deomedes Pereira, 48, está preocupado com o seu futuro. Desde que nasceu, ele mora e trabalha na esquina da Rua Montevidéu, em um dos imóveis que serão desapropriados. A área que pertence à família dele tem cerca de 1.250 metros quadrados. O espaço privilegiado serve de estacionamento para dois empreendimentos. "Tenho contrato com a Clínica de Fraturas e com um cursinho. Ao todo, são 35 vagas cobertas. Ainda não sei para onde vou", revelou o comerciante, que também tem um bar no local.

Também preocupados estão os barraqueiros que comercializam na calçada nos fundos do supermercado. Alguns há mais de 30 anos. Uma equipe da Secretaria das Cidades está fazendo o levantamento da renda diária deles para que sejam indenizados. "Eu preferia outro lugar para trabalhar. O dinheiro da indenização vai acabar", revelou o comerciante Aldo Paulino da Silva, 58 anos.

Se para quem trabalha no local as mudanças trazem incertezas, imagine para quem vai ser vizinho de um dos viadutos. Inconformados, os moradores da Rua Bandeira Filho já fizeram vários protestos contra a implantação dos elevados. O viaduto passará ao lado de um conjunto de quatro prédios com 72 apartamentos. "Os moradores ainda não sabem como vão sair e chegar em suas casas. Além disso, haverá aumento das poluições do ar e sonora", revelou a psicóloga Valéria Vieira, 53 anos. Para o governo, o interesse da maioria se sobrepõe à minoria.

O Recife na era dos estaiados


Projeto da ponte estaiada para o mirante na Via Mangue, Zona Sul

O modelo da estrutura estaiada para os elevados teve início na década de 1940, mas vem se tornando uma tendência nas cidades brasileiras. Em São Paulo, a Ponte Orestes Quércia sobre o Rio Tietê se tornou um dos cartões-postais da cidade. A imponência das estruturas pode ter pesado na escolha do projeto. Além dos estaiados da Agamenon Magalhães, o Recife terá ainda a ponte estaiada da Via Mangue. A opção pelo modelo também leva em conta a praticidade da construção. A estrutura necessita de menos pilares de sustenção e, em tese, trará menos impacto ao entorno durante as obras. O plano de circulação da Avenida Agamenon Magalhães será elaborado pelo consórcio que venceu a licitação: JM-Cidade, das empresas JM Terraplenagem e Construções e a Construtora Cidade. Elas aguardam o resultado do parecer do Tribunal de Contas do Estado para só então receber o sinal verde para as obras.

Um dos quatro viadutos da Agamenon Magalhães no modelo estaiado
A expectativa da Secretaria das Cidades é que a construção dos elevados e do trecho do corredor Norte/Sul na Agamenon ocorra neste segundo semestre. As duas obras deverão ser feitas simultaneamente. Depois da ordem de serviço, o prazo de execução é de 18 meses. "Se fôssemos adotar o modelo tradicional, seriam necessários dois pilares no meio da avenida", explicou o secretário de mobilidade da Secretaria das Cidades, Flávio Figueiredo. Os estaiados permitem cobrir um vão de cerca de 800 metros de extensão. Os viadutos da Agamenon Magalhães terão menos de 300 metros de comprimento. A ideia é que sejam construídas as bases nos lados opostos dos elevados, dessa forma a avenida fica liberada. Numa etapa seguinte é fixado o tabuleiro do viaduto, que é levado pronto para ser montado. "A tecnologia pode permitir que o trânsito não fique totalmente parado durante as obras", revelou Flávio Figueiredo.

Para os especialistas da Universidade Federal do Ceará, que já realizaram estudos sobre o modelo estaiado, vários fatores distinguem as estruturas estaiadas das demais. Uma delas é a estética. Outra é que a tecnologia já dispõe de software com programas de cálculo que ajudam a identificar algum possível problema.

Para o professor do departamento de engenharia da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Romilde Almeida, a técnica dos estaiados vem se proliferando nas cidades brasileiras. "Natal, Campina Grande, São Paulo, Belo Horizonte são alguns dos lugares que já adotaram esse tipo de solução. O apelo estético é forte, mas o conceito é que define o tipo da obra a ser adotada", ressaltou o professor.

No modelo estaiado, a sustentação do vão é na parte superior do tabuleiro. Os cabos saem de uma torre que é apoiada em um bloco de fundação.

Com a palavra, Crea e IAB



Cadastramento dos barraqueiros que serão indenizados. Foto: Julio Jacobina/DP/D.A Press



Vitória Andrade, presidente do IAB, questiona viadutos. Foto: Julio Jacobina/DP/D.A Press
Reuniões, cartas abertas e até uma audiência com o Ministério Público de Pernambuco. Dois importantes órgãos de classe do estado, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) e o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), abriram o verbo contra as intervenções na Avenida Agamenon Magalhães, antes que se esgotem todas as discussões. A preocupação de ambos é que os impactos tragam mais prejuízos do que melhorias na circulação.

De acordo com a presidente do IAB, Vitória Andrade, é preciso ter cuidado com o planejamento urbano da cidade e não apenas olhar para situações isoladas que possam repercutir negativamente lá na frente. "O problema não é atacar a imobilidade. A mobilidade vem muito antes com o planejamento", ressaltou. De acordo com a presidente do IAB, o órgão não pretende apresentar propostas e sim ajudar nas discussões. "Não é que a gente tem certeza que vai dar errado. A gente só não tem certeza que vai dar certo", revelou Vitória.

Já o presidente do Crea, José Mário, diz que não é contra os viadutos, mas não acredita que sejam fundamentais no momento. "Eles não são prioridades e ainda podem comprometer a implantação de futuros modais na avenida", alegou. Para o presidente do Crea, a instalação do BRT em nível, ao lado do canteiro central, inviabilizará a passagem de um Veículo Leve sobre Trilho (VLT) no futuro, ou até mesmo um monotrilho, se a demanda for modificada. Segundo o engenheiro Maurício Pina, a inviabilidade só acontecerá se o modal tiver um elevado longitudinal. "O VLT pode ser implantado na pista em nível, pois haverá uma pista exclusiva. Somente no caso de necessidade de um elevado longitudinal, os viadutos teriam que ser removidos", esclareceu Pina.

Ainda segundo José Mário, outro problema das obras dos elevados são as artérias. "Não foi pensado nada para as artérias que estão sobrecarregadas". A posição dos órgãos pode ser vista aqui:

Nenhum comentário:

Postar um comentário