segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Mobilidade » Pressa em fazer obras criou equipamentos que não dialogam com a paisagem urbana


Tânia Passos - Diário de Pernambuco
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Choque de estilos: estação do BRT foi construída em meio a um contexto de edifícios históricos de arquitetura moderna. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press
A necessidade de suprir mais de quatro décadas de falta de investimentos na mobilidade urbana da Região Metropolitana do Recife pode ter ocasionado um outro problema referente à forma de ocupação dos espaços públicos. Urbanistas alertam que a pressa em implantar projetos para a Copa do Mundo, sem o devido planejamento, acabou criando verdadeiras barreiras urbanas. O alerta foi feito em um seminário promovido pelo Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (Nutau/USP). Especialistas de todo o país apresentaram projetos de impactos implantados nas cidades-sede da Copa.

A atual presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-PE), Vitória Andrade, analisou projetos implantados no Recife, a exemplo dos corredores de BRT. Na Avenida Guararapes, um dos cartões-postais da cidade, dentro de um perímetro histórico, as estações de BRT parecem corpos estranhos em meio às antigas edificações e em vias espremidas entre as estações. "O único alento é saber que isso não vai durar muito porque com o tempo vai se mostrar ineficaz", prevê.

Uma das principais críticas dos urbanistas é quanto à inadequação dos projetos aos ambientes em que foram implantados. "Não se pode usar nas cidades a mesma lógica de uma rodovia. As obras estão desvinculadas da vida urbana e das necessidades de cada lugar", ressaltou Vitória.

Outro exemplo apresentado pela representante do IAB-PE no seminário foi o elevado da Caxangá. "Não se pode mais conceber esse tipo de obra. É uma agressão ao espaço urbano. Agora imagine esse equipamento multiplicado por quatro na Agamenon Magalhães, como estava previsto?", questionou a arquiteta, se referindo ao projeto, que após duras críticas da sociedade, foi descartado pelo então governador Eduardo Campos.

A defesa da cidade com perspectiva para as pessoas e não apenas para a mobilidade motorizada é também compartilhada pelo arquiteto e urbanista Roberto Montezuma, presidente do Conselho Regional de Arquitetura e Urbanismo (CAU-PE).

"A Caxangá foi tratada só como um eixo rodoviário. E isso não ocorre somente no Recife. Em todo o Brasil se encontram exemplos da falta de preocupação com a interação dos espaços com as pessoas", ressaltou.

Para a Secretaria das Cidades, os corredores seguem a premissa de priorizar o sistema de transporte público. O órgão acrescenta que tem foco na modernização do sistema, com estações mais confortáveis, e que seguiu as premissas estabelecidas no Plano Diretor de Transporte Urbanos, que aponta o modal como alternativa para os próximos 20 anos.

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