segunda-feira, 3 de setembro de 2012

RECIFE:GOVERNO X MOBILIDADE E SUAS ATRAPALHADAS

Por Tânia Passos Decisões isoladas não só prejudicam qualquer ação de intervenção urbana como retardam, encarecem e desacreditam. Nas obras de mobilidade não é diferente. E uma das premissas da ausência de comunicação entre os órgãos ou os diversos níveis de governo está na falta de planejamento. Um norte para se caminhar na mesma direção é o chamado plano diretor, seja na esfera urbana ou de transporte ou em que qualquer área com políticas afins. As obras de mobilidade que a Região Metropolitana do Recife está tendo o privilégio em receber não ficaram livres de contratempos. Uma das razões foi justamente a falta de conexão entre quem executa e quem resolve planejar depois. Um exemplo clássico foi a obra de recuperação da PE-15. Parte do serviço da rodovia estadual teve que ser refeito porque alguém lembrou, tardiamente, que o piso por onde irá passar o ônibus do corredor Norte/Sul, no modelo articulado, exige um pavimento mais resistente. O jeito foi quebrar para refazer. Outro exemplo mais gritante foram as obras de recuperação das avenidas Conde da Boa Vista e Caxangá. Novas paradas, canteiro central, coberturas modificadas, inclusive no Derby, para descobrirmos que quatro anos depois o que foi feito em 2008 terá que ser refeito agora. Enquanto a Prefeitura do Recife trabalhou na ótica de criar um corredor de ônibus comum, o estado apostou no modelo do Transporte Rápido por Ônibus. Tudo será refeito para se adaptar ao modelo proposto. E fico me perguntando se poderia ter sido diferente, independentemente dos gestores públicos. Só mesmo um plano diretor de transporte urbano para nortear as escolhas. Em todo caso, quem poderia antever que o Recife seria uma das subsedes da Copa do Mundo? Ninguém. Mas porque será que em Curitiba, o anúncio das obras da Copa não precisou provocar mudanças na concepção do sistema de tráfego existente? Eles planejaram na década de 1970 e a Copa ainda era um sonho só visto na televisão.
A concepção do corredor Leste/Oeste foi iniciada com a requalificação da Avenida Conde da Boa Vista em 2008. Tudo começou por ela. Mas a via, que já se chamou Rua Formosa um dia, ficou de fora do projeto do governo do estado, quatro anos depois, na hora de finalmente receber o modelo do corredor Leste/Oeste, nos moldes do BRT (Bus Rapid Transit), ou Transporte Rápido por Ônibus, modal escolhido para o corredor. As obras também mudaram de sentido vindo do Oeste para o Leste, mas não chegarão à Conde da Boa Vista, nessa etapa. O projeto só foi licitado até a Praça do Derby. A ironia é que a Boa Vista, que foi construída em 1899, significou o novo caminho para ligar justamente o Derby ao Centro da cidade. Essa ligação, claro, não pode ser rompida. São 169 ônibus e 110 mil passageiros que passam por dia pelo bairro em direção ao Centro. A Conde da Boa Vista efetivamente faz parte do Leste/Oeste, mesmo não tendo sido contemplada, ainda. A expectativa é que um outro projeto ainda não licitado atenda o restante do corredor nos próximos dois anos. O projeto licitado até agora do Leste/Oeste terá 12,5 quilômetros. A Boa Vista tem 1,6 km. Ou seja, menos de 2km separam um modelo de transporte que promete ser referência de um “arranjo” para permitir a entrada do BRT numa via não preparada para o modelo. Já sabendo da limitação, a primeira hipótese levantada pela Secretaria das Cidades foi a de fazer uma integração temporal no Derby. Ou seja, os futuros ônibus do BRT chegariam até esse ponto para retornar. O passageiros que quisessem seguir em frente até o Centro poderiam usar um bilhete temporal e mudar de condução, sem precisar pagar outra passagem. Isso tudo faltando 1,6km para concluir o percurso. Fazer uma integração temporal com um volume de cerca de 100 mil passageiros é, no mínimo, arriscada e pode pôr em “xeque” o principal trunfo do BRT: a rapidez do sistema. O Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano já pensa no plano B. De acordo com o diretor de planejamento, André Melibeu a integração temporal no Derby não é uma solução possível devido ao grande volume de passageiros. “A operação tem que continuar até o Centro. Não é possível fazer um transbordo no Derby com o volume diário de passageiros”, revelou. Uma ideia que já chegou a ser cogitada foi a construção de algumas estações no modelo BRT na Conde da Boa Vista e em alguns pontos do Centro, que atenderiam, inclusive, o corredor Norte/Sul. Outra opção será adaptar os ônibus no BRT com uma porta do lado direito para o desembarque dos passageiros nas paradas já existentes da Conde da Boa Vista. 113 anos desde o Conde A antiga Rua Formosa só recebeu o atual nome em 1870. Herdou o título do ex-presidente da Província Francisco do Rego Barros, falecido naquele ano. Ainda em construção a via passou por pelo menos três etapas. O primeiro trecho foi entre as ruas da Aurora e do Hospício. Depois mais um trecho até a Rua Gervásio Pires e por último até o Derby. Este último, também conhecido como caminho novo. Do caminho novo ao corredor Leste/Oeste já se passaram 113 anos. O transporte e o número de passageiros não são comparáveis, mas a importância da via como corredor é indiscutível até hoje. “O importante é não tirar sua característica de via prioritária ao transporte público”, destaca o coordenador da Associação Nacional do Transporte Público (ANTP), César Cavalcanti. Um total de 18 linhas passa pelo trecho do Leste/Oeste distribuídas em 169 ônibus. Com a implantação do sistema BRT, a estimativa é de reduzir a frota para 71 ônibus e apenas cinco linhas. “O número de pessoas transportadas deve ser equivalente ao que é hoje de 110 mil pessoas. Mas haverá uma redução significativa de ônibus em direção ao Centro”, revelou André Melibeu, diretor de planejamento do Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano. Para o engenheiro e ex-presidente da antiga EMTU, atual Grande Recife de Consórcio Metropolitano, Oswaldo Lima Neto, o centro da cidade é ainda muito atraente. “A Conde da Boa Vista não pode ficar de fora do corredor pois representa um grande polo de viagens. Cito apenas dois exemplos: o Shopping Boa Vista e o Atacadão dos Presentes, que são estabelecimentos que atraem usuários do transporte público”. O Centro, destaca, será beneficiado com a implantação dos corredores. “Tanto o corredor Norte/Sul quanto o Leste/Oeste irão proporcionar mais mobilidade a Boa Vista”.

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