quinta-feira, 20 de setembro de 2012

RECIFE:No Grande Recife, atraso é principal desafio para deslocamento de ônibus


Ausência de corredores exclusivos e aumento de carros prejudica os ônibus.
Todos os dias, cerca de 2 milhões de pessoas utilizam os coletivos.

Katherine CoutinhoDo G1 PE
Todos os dias, cerca de 2 milhões de passageiros utilizam oônibus como meio de transporte na Região Metropolitana do Recife, através dos coletivos do Grande Recife Consórcio de Transportes (GRCT). São 390 linhas, cerca de 3 mil ônibus, que realizam aproximadamente 26 mil viagens diariamente. O maior desafio, para a população, é driblar os atrasos e os veículos lotados nos horários de pico.
Ausência de corredores de ônibus e aumento do números de carro geram engarrafamentos, que prejudicam deslocalmento dos ônibus. (Foto: Katherine Coutinho / G1)Ausência de corredores exclusivos e o aumento do número de carros geram engarrafamentos, que prejudicam deslocalmento em ônibus. (Foto: Katherine Coutinho / G1)
No ano das eleições municipais, o G1 preparou uma série de reportagens sobre as quatro maiores preocupações dos eleitores, de acordo com a consulta aos internautas na nossapágina de eleições: educação, saúde, transporte e segurança. A série sobre transporte vai até a sexta-feira (21).
Morando no bairro de Maçaranduba, em Jaboatão dos Guararapes, a técnica de enfermagem Izete Azevedo se desdobra para chegar até o Hospital Getúlio Vargas, no Recife, onde trabalha. “Os ônibus demoram, eu às vezes ando até outro ponto, para pegar outra linha, para ver se consigo ir. São dois ônibus, além do metrô, para chegar no HGV. E ainda mudaram a linha do ônibus que eu pegava, já não tinham muitos”, reclama Izete.
As mudanças de roteiro nas linhas acontecem, por vezes, devido a pedidos da população. “O transporte público é muito dinâmico. As linhas aumentam de acordo com a necessidade, mas é preciso entender que, para criar uma linha, é preciso demanda e que a prefeitura dê a infraestrutura necessária para que o coletivo passe por lá. Tem lugar que não é pavimentado e o ônibus passa, mas com dificuldade”, explica o presidente do Consórcio, Nélson Menezes.
Tarifa dos ônibus na Região Metropolitana do Recife
AnelTarifaTarifa reduzida*
AR$ 2,15R$ 1,10
BR$ 3,25R$ 1,65
DR$ 2,60R$ 1,10
GR$ 1,40R$ 1,10
Fonte: Grande Recife Consórcio de Transporte.
*Tarifa reduzida a partir das 5h do domingo, indo até a meia-noite.
O valor da passagem é definido através do Conselho do Consórcio, que é formado por representantes tanto do governo quanto da sociedade civil. O último reajuste aconteceu em janeiro deste ano, fazendo com que as passagens custem a partir de R$ 1,40 (Anel G) - aos domingos, a tarifa é reduzida, custando a partir de R$ 1,10 (anéis A, D e G). Confira na tabela ao lado o preço atual das passagens do GRCT.
Embora a administração do GRCT seja feita em conjunto, atualmente, pelas prefeituras de Olinda e Recife, além do governo estadual, a responsabilidade do transporte público dentro das cidades permanece sendo dos governos municipais. “As prefeituras são obrigadas a tomar conta de seu transporte, não podem delegar a ninguém. No Consórcio, elas administram em conjunto. Pensar o transporte dessa forma, no Recife, é uma facilidade, devido à densidade da Região Metropolitana, que mais parece uma cidade só. Se você pensar separadamente, ia ser muito difícil para a população. Imagine a quantidade de pessoas que trabalha em uma cidade e mora em outra sem ter como ir de ônibus?”, reflete Menezes.
Tarifas especiais e serviço opcional de ônibus na Região Metropolitana do Recife
LinhaTarifa
042 – AeroportoR$ 2,65
072 – CandeiasR$ 4,00
160 – Gaibu/Barra de JangadaR$ 4,00
195 – Recife/Porto de GalinhasR$ 10,40
191 – Recife/Porto de Galinhas (Nossa Senhora do Ó)R$ 7,10
194 – Cabo/Porto de GalinhasR$ 4,00
196 – Recife/Porto de Galinhas (IMIP)R$ 5,70
Fonte: Grande Recife Consórcio de Transporte.
 A autônoma Miriam Lima sabe bem o que é ter de ir de uma cidade a outra para trabalhar. Morando em Ouro Preto, Olinda, e trabalhando no Recife, Miriam percorre mais de 15 quilômetros todos os dias para chegar até o emprego. O problema, para ela, é conseguir pegar o coletivo no Terminal de Integração da PE-15. “No horário da saída, é sufocante. As pessoas empurram, todo mundo querendo entrar ao mesmo tempo. A gente só aceita porque não tem outra opção”, lamenta Miriam.
Para a técnica de enfermagem Danielle Menezes, o problema maior são os atrasos. “De manhã, dez minutos faz toda a diferença. Não posso chegar atrasada no trabalho”, afirma Danielle, que entende os ônibus cheios nos horários críticos. A estudante Juliane Laís, de 14 anos, mora no final da Avenida Norte, no Recife, e estuda em Paulista, também na Região Metropolitana. “O ônibus era para chegar de 20 em 20 minutos, mas às vezes ele demora 40 para chegar aqui na integração”, diz Juliane.
Terminais Integrados
O trânsito tem sido um dos desafios a serem enfrentados por quem precisa dos ônibus e também por quem administra os terminais, como Alysson Machado, gestor do Terminal Integrado do Barro, localizado no bairro de Jardim São Paulo, na BR-101, no Recife, e integrado ao sistema de metrô da Região Metropolitana. Por dia, passam aproximadamente 100 mil pessoas pelo terminal. “O trânsito atrapalha muito. O ônibus consegue sair daqui na hora, mas acaba pegando um congestionamento na BR, com isso atrasa para o próximo. Lidar com planejamento nessas horas é complicado”, afirma Machado.
Terminal Integrado do Barro passa por reformas. (Foto: Katherine Coutinho / G1)Terminal Integrado do Barro passa por reformas para resolver problemas como a passagem de pedestres pelas pistas de rolamento. (Foto: Katherine Coutinho / G1)
O Sistema Estrutural Integrado (SEI) reúne linhas de metrô e ônibus - embora nem todo terminal de integração seja ligado diretamente ao metrô. Voltado para o transporte de massa, o SEI conta com eixos radiais e perimetrais, sendo que os terminais de integração ficam localizados nos cruzamentos desses eixos. O acesso se dá através de dez empresas operadoras, responsáveis por 78 linhas, das quais 51 são alimentadoras, sete perimetrais, 11 radiais, três interterminais e três circulares, atendendo dez dos 14 municípios da Região Metropolitana do Recife.
Cores ajudam a identificar ônibus e linhas. (Foto: Katherine Coutinho / G1)Cores ajudam a identificar ônibus e linhas.
(Foto: Katherine Coutinho / G1)
As cores nos ônibus servem também de auxílio à população, indicando o tipo de percurso que é realizado pelo coletivo ao deixar o terminal. Os amarelos são responsáveis por trazer os usuários do subúrbio até o terminal integrado mais próximo, pertencendo assim às linhas alimentadoras. Os vermelhos cruzam grandes corredores sem passar pelo centro da cidade, constituindo a linha perimetral. Os ônibus que saem dos Terminais de Integração até o Centro do Recife são os azuis, que integram a linha radial. Entre um terminal e outro, os responsáveis pelos percursos são os ônibus verdes, enquanto os brancos levam os usuários às áreas no entorno do terminal de integração.
Ao todo, o SEI conta com 14 terminais integrados e a expectativa do GRCT é aumentar esse número para 25, até 2014. Além desses terminais, o Sistema de Transporte Público de Passageiros (STPP) conta ainda com 81 miniterminais, que servem como ponto de apoio para várias linhas em bairros e subúrbios dos 14 municípios da RMR.
Alguns dos atuais terminais estão passando por reformas, como o do Barro. “Esse é um terminal que surgiu pela necessidade. Há a questão da segurança dos passageiros, que precisam atravessar pelas faixas de rolamento. Depois da reforma, com as plataformas, vamos resolver essa questão”, explica Machado. A primeira das cinco etapas da reforma deve terminar em fevereiro de 2013, de acordo com o gestor do terminal.
Outro desfio dos terminais é a questão da segurança. As ameaças externas exigem que se invista cada vez mais na área. “São muitas pessoas que passam por aqui, não temos como ter controle de tudo, mas ficamos de olho. Temos um esquema de segurança, equipe que toma conta. A situação deve melhorar ainda mais após a reforma”, acredita Machado.
A qualidade do serviço inclui também investimento na infraestrutura dos TIs, garantindo conforto para os usuários. Como regra geral, os equipamentos possuem lanchonetes, sanitários, central de atendimento e lojas.
 
Parada de ônibus no Bairro Novo, em Olinda. (Foto: Katherine Coutinho / G1)Parada de ônibus no Bairro Novo, em Olinda.
(Foto: Katherine Coutinho / G1)
Paradas
O Grande Recife conta com 5.612 paradas de ônibus, todas de responsabilidade do Consórcio. Desse total, 391 são do modelo com cobertas e bancos de metal. A manutenção desses abrigos fica a cargo de uma empresa terceirizada, que utiliza espaços publicitários no equipamento e, em contrapartida, é responsável pela boa condição da parada. Para reclamações, a população pode entrar em contato com o Consórcio através daOuvidoria.
Novas linhas
Organizar um sistema de transporte público é complexo. O presidente do Consórcio, Nélson Menezes, ressalta que estudos são feitos constantemente para atender às necessidades da população. De acordo com ele, bairros e comunidades se modificam a todo instante e nem sempre é possível acompanhar as alterações – ou saber o que a comunidade precisa exatamente. Para isso, o Consórcio tem um setor exclusivo para receber as reclamações e opiniões da população, a Gerência de Relacionamento do Grande Recife.
O objetivo, afirma o presidente, é atender da melhor maneira possível à população. “A gente faz o desenho da linha, acredita que o número de viagens é suficiente devido aos estudos, mas nem sempre é isso que o usuário quer. Esse setor é responsável por receber essas demandas. Respondemos a todas”, explica Menezes.
Por mês, o Grande Recife faz cerca de 60 atendimentos por telefone, além de outros 50 pessoais, dez reuniões com comunidades e, em média, duas visitas técnicas. “Os técnicos vão aos locais, mas é como eu disse, é necessário ter estrutura, isso é responsabilidade da Prefeitura. Por vezes, tem um abismo, ou a comunidade é de difícil acesso por buracos ou outros problemas. Em alguns casos, o trajeto que a população pede não é possível para os ônibus, eles ficariam presos”, detalha o presidente. O contato com a Gerência pode ser feito através dos telefones (81) 3182.5552 e 3182.5553.
Além dos pedidos dos usuários, o Grande Recife está para abrir edital de licitação para a contratação de novas empresas para operaram no Consórcio. A proposta do Governo prevê um contrato com as empresas e/ou consórcios vencedores no período de 15 anos, renováveis por mais cinco.

Atualmente, são 18 empresas permissionárias que atuam na Região Metropolitana. O gerenciamento e a fiscalização do serviço são feitos pelo Grande Recife. O Consórcio conta atualmente com uma equipe de 70 fiscais, que estão no dia-a-dia dos terminais e nas ruas. Eles possuem a prerrogativa de vistoriar e fiscalizar o serviço prestado pelas empresas operadoras, através das linhas e veículos, e o poder de multar e implantar alterações pontuais na programação das linhas, quando necessário.
TRO
O professor doutor na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e atuante na pesquisa do transporte do Grande Recife Oswaldo Lima Neto lembra que os corredores exclusivos poderiam ajudar a desafogar o trânsito, ao menos para os ônibus. “O seu dia fica menor com as demoras. A gente perdeu a precisão no deslocamento, você não tem certeza da hora que o ônibus vai passar, não consegue prever que sai daqui e em 20 minutos chega ao destino”, diz Lima Neto.
Essa previsibilidade pode ser reconquistada através dos corredores de ônibus, em especial os do transporte rápido por ônibus (TRO), que vão se implantados de Igarassu ao Centro do Recife. Esses veículos terão plataforma de embarque/desembarque em nível, seguindo o modelo do metrô, com pagamento adiantado da passagem, o que tende a agilizar o embarque e desembarque. “Já faz mais de 30 anos que esse tipo de transporte existe. Você tem para mais de 100 projetos funcionando no mundo todo. O mais famoso deles é o Transmilênio, em Bogotá, capital da Colômbia, que funciona que é uma beleza”, conta o professor.
O sistema conhecido como ‘Transmilênio’ se tornou o único grande projeto de transporte público aprovado pela Organização das Nações Unidas (ONU). A criação de corredores exclusivos de ônibus deixou as viagens muito mais rápidas. Com isso, sete em cada dez habitantes usam o transporte público. O Transmilênio permitiu a retirada de circulação de 7 mil ônibus particulares pequenos, o que ajudou a reduzir ainda o consumo de combustível.
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