BRT Pernambucano: Ligeiro, malfeito e atrasado
Publicado em 12/06/2014, Às 12:30
Por Fernando Castilho
JC Negócios
Um engenheiro, com alguma expertise na implantação de BRTs em cidades da América Latina e da Europa, que desembarcasse no Recife para conhecer a implantação do BRT nos corredores Norte-Sul e Leste-Oeste do Recife certamente ficaria impressionado com o nível de desperdício de material, improvisação operacional e falta de padronização de processos. E com o custo final, especialmente, das estações.
O problema não está no fato de o BRT para os dois corredores ter sido licitado e contratado sobre um projeto básico, cujo desenvolvimento executivo chegou ao ponto de mudar o padrão construtivo das estações. O custo delas subiu de R$ 5,8 milhões para R$ 22,3 milhões cada, sob o argumento de que a substituição do modelo de concreto armado por metálico permitiria a entrega até a Copa de 2014. Como se viu, apenas quatro das 54 estações serão entregues, o que por si só já é grave. O problema está na falta de cuidado no processo construtivo, que fez com que cada uma delas fosse construída com padrão diferente.
Não é preciso ser especialista para ver a forma artesanal como estão sendo feitas as estações, algumas delas abandonadas por meses. Também chama a atenção a profusão de itens das estações metálicas que não resistirão ao uso intenso e demandarão serviços de restauração. O BRT desmoralizou a Secretaria das Cidades quanto à data de sua inauguração. Desmoralizou a credibilidade de um modelo de sucesso ao redor do mundo. E vai desmoralizar o governo pela forma improvisada com que tratou a execução de uma obra tão importante para a capital. Talvez o TCE escape disso quando for conferir (como, aliás, já está conferindo) as suas contas.
O TCE encontrou indícios de irregularidades nos contratos do BRT que incluem a mudança do padrão construtivo das estações. O contrato de R$ 344,9 milhões teve aditivos de R$ 139,3 milhões, com supressão de itens de R$ 99,9 milhões. Como a supressão se refere à construção de obras como elevados e viadutos, quer dizer que o valor suprimido de um contrato será a base de outro contrato. Ou seja, o custo vai estourar com outro nome.
O discurso de entrega na Copa fez o consórcio improvisar o modelo das estações, que deveriam ser de concreto pré-moldado e passaram para o metálico, recebendo uma explosão de itens que dificilmente aguentariam o uso intenso.
Em algumas estações os tijolos intertravados foram cortados ao meio para adequar-se à largura do piso e serem cimentados. Noutras, a base da estação precisou ser recortada para colocação da proteção dos ônibus.
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