quinta-feira, 3 de março de 2016

MOBILIDADE Uber começa a funcionar no Recife Capital pernambucana é a primeira do Nordeste a receber serviço que oferece corridas a partir de carros particulares


Novos usuários podem baixar o aplicativo ou usar via web
Novos usuários podem baixar o aplicativo ou usar via web
Arnaldo Carvalho/JC Imagem
A polêmica em torno da Uber aportou de verdade no Recife. A empresa, que permite a cidadãos comuns oferecerem transporte em seus carros particulares, começou a prestar seus serviços na capital pernambucana nesta quinta-feira (3) – oficialmente a partir das 14h. Chega para a alegria de entusiastas do sistema de compartilhamento de veículos, com promessa de renda extra para quem dirige e de economia de até 40% para quem usa. Mas é sinônimo de angústia para taxistas, que encaram o sistema como um concorrente desleal; e para o poder público, que ainda não sabe bem como lidar com essa novidade.
A seleção de motoristas, chamados pela Uber de parceiros, já está ocorrendo, mas a empresa não revela quantas pessoas aderiram ao sistema no Recife. Informa apenas que são 10 mil pessoas no País. Esses parceiros são pessoas maiores de idade que precisam provar que não têm antecedentes criminais e têm que apresentar documentos pessoais e do veículo. É preciso, ainda, passar pelo que a Uber chama de “sessão de ativação”, para conhecer as práticas dos motoristas que têm as melhores avaliações.
O cadastro pode ser feito no site www.parceirospe.com. A remuneração é paga semanalmente e equivale a 75% do que o cliente paga pelas corridas, cuja oferta é feita de acordo com a vontade do motorista: ele é quem define quando vai estar disponível e por quanto tempo, já que aceita as corridas se quiser.
Não há uma estimativa de ganhos no Recife, mas, para São Paulo, o site dos parceiros daquele Estado mostra uma simulação em que sete a nove horas por dia e boa avaliação dos clientes podem render cerca de R$ 4.300 por mês, já descontada a comissão da Uber. Vale lembrar que esses valores são para São Paulo e cada Estado tem suas tarifas. No Recife, por exemplo, os preços para as corridas são R$ 2,50 como valor-base (cobrado em toda corrida), R$ 1,15 por quilômetro mais R$ 0,17 por segundo. No entanto, o valor mínimo para uma corrida é de R$ 6. A tabela vale para o preço regular, mas a Uber trabalha também com “Preços Dinâmicos”, que aumenta os valores para situações de alta demanda, como o Carnaval, por exemplo.
No caso dos usuários, também é preciso um cadastro (veja no quadro abaixo), que pode ser feito no site ou nos aplicativos para iOSAndroid e Windows Phone . Quem já tem conta pode distribuir um código promocional com R$ 20 em bônus para seus contatos (acessível via web ou aplicativo no menu “Viagens gratuitas”).


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CARROS - 
A estreia no Recife é com a categoria UberX. Nela, o carro tem que ser de um modelo a partir de 2008, com quatro portas e ar-condicionado. Nesta modalidade, o preço da corrida é mais barato do que na Uber Black, pela qual a empresa é mais conhecida e que se restringe a carros pretos de luxo. Segundo o diretor de Comunicação da Uber no Brasil, Fábio Sabba, a oferta desse segmento, assim como de outros serviços como o UberPet, que permite o transporte de animais de estimação, vai ser avaliada conforme a demanda.

Recife é a primeira do Nordeste em que a companhia norte-americana opera. O município entrou no radar da empresa devido à quantidade significativa de usuários do sistema oriundos da cidade mas que faziam corridas em outros Estados ou países. O interesse da companhia foi revelado em agosto do ano passado, quando começaram as contratações para o escritório local. Uma equipe já está formada e outras quatro vagas estão abertas, para cargos de gerência e coordenação (veja em www.uber.com/careers).

Serviço encara resistência
Assim como em diversos pontos do mundo, a Uber chega ao Recife cercada de resistência. Em outubro do ano passado, foi sancionada uma lei municipal que restringe o uso de aplicativos de táxi e proíbe a atuação de motoristas e veículos que não atendam à lei federal 12.468/2011, que regulamenta a profissão de taxista. É a mesma legislação usada pela Uber como defesa da atividade da empresa, pois só serviria para taxistas e não se aplicaria aos parceiros da Uber.

As divergências de interpretações da lei dão espaço para que a empresa atue no Recife – onde, inclusive, tem CNPJ e paga Imposto Sobre Serviço (ISS), tributo que aplicativos como EasyTaxi e 99Taxis não recolhem aqui. “Todas as decisões judiciais têm sido favoráveis à Uber”, assegura Fábio Sabba, executivo da empresa que anunciou ontem a chegada à capital. “A lei (do Recife) é inconstitucional. O governo pode fiscalizar, mas não pode proibir”, assegura.
Do outro lado, a Prefeitura do Recife já mostra que há muita disputa pela frente. Em nota ao JC, a Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano do Recife (Semoc) informou que “(...) uma vez que os veículos que utilizam a plataforma do Uber não são cadastrados no município, os mesmos poderão ser fiscalizados como transporte irregular de passageiros. A fiscalização por parte da CTTU já acontece de forma contínua e o valor da multa para os condutores que realizam esse tipo de transporte de forma irregular é de R$ 2.776”.
Em Olinda, a postura da prefeitura é semelhante. Segundo o secretário de Transportes e Trânsito, Oswaldo Lima Neto, tramita na Câmara de Vereadores olindense uma lei encaminhada pelo Executivo com linhas gerais semelhantes à do Recife, "proibindo esse tipo de modalidade (Uber)" e apreendendo e multando quem for pego contrariando a regra.
Fábio Sabba - FOto: Diego Nigro/JC Imagem
Fábio Sabba diz que todas as ações judiciais têm sido favoráveis à Uber- Foto: Diego Nigro/JC Imagem

TAXISTAS - O Sindicato dos Taxistas de Pernambuco (Sinditáxi-PE) promete reagir à chegada do Uber no Estado. A principal justificativa seria a diferença de condições para motoristas vinculados à empresa e para os taxistas. “Estamos aguardando o início da operação para decidir como vamos agir, mas vamos consultar o departamento jurídico para decidir como proceder”, afirma o presidente do Sinditáxi, Everaldo Menezes.
Os taxistas afirmam que não são contra os aplicativos, mas a forma como eles são utilizados. “Aplicativo para carro comum sem ser táxi não deveria existir. A entrada do Uber aqui não é justa porque nós pagamos todos os impostos e somos obrigados a fazer cursos. E pra eles quais são as regras? Eles estão entrando pela janela, como diz o ditado”, reforça Menezes.
De acordo com o Sinditáxi, existem entre 15 mil e 18 mil táxis circulando em Pernambuco. Desse total, 6,1 mil estão no Recife. “Os clientes precisam ficar atentos porque essas empresas chegam fazendo mil propagandas, mas depois não mantêm as promessas”, diz, lembrando que em São Paulo são tensas as relações entre taxistas e motoristas do Uber. Em dezembro, os taxistas protestaram contra a regulamentação do serviço do Uber no Estado, inclusive com episódios de violência.


Protestos, violência e alta de taxas
O valor do mercado da Uber - US$ 65 bilhões (R$ 243,12 bilhões) alcançados em apenas sete anos de atividades - dá uma ideia de por que a empresa segue expandindo em novos mercados, apesar das grandes polêmicas em que se envolve – dos campos jurídico e político ao policial. Em todo o mundo, há relatos de protestos, restrições, leis contrárias e casos de violência, envolvendo principalmente a categoria que se sente mais prejudicada, a de taxistas.
Há menos de 15 dias, cerca de mil taxistas espanhóis concentraram-se para protestar com buzinaço e fogos de artifício contra o que consideram uma concorrência desleal em relação à Uber. No Brasil, onde está desde maio de 2014, os problemas envolvem violência. Em São Paulo, houve casos de paralisações quilométricas de táxis e agressões, como a que foi feita contra um motorista da Uber por um grupo de taxistas, que também destruíram o carro dele e até mesmo contra passageiros. Na capital paulista, o caminho escolhido pelo prefeito Fernando Haddad foi abrir uma consulta pública sobre o assunto.
Mas não é só taxista que protesta. Os questionamentos dos parceiros também crescem nos EUA. No mês passado, cerca de 400 parceiros da Uber de Nova York também protestaram, nesse caso contra o aumento da comissão da empresa: antes de 15% e agora de 25%. Um ponto tão delicado que abriu margem para a chegada de novos aplicativos, como o Juno, que promete oferecer o mesmo serviço na cidade, cobrando 10% do motorista.
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Protesto contra Uber na França, em junho de 2015 - Foto: AFP

Usuários locais avaliam experiências
Polêmicas à parte, usuários recifenses que utilizaram Uber em outros Estados se mostram favoráveis ao serviço. Ao final de um show em São Paulo, de madrugada, o biológo Diego Sotero, 30 anos, esperava um táxi com preços razoáveis há mais de duas horas. “Eles faziam leilão”, denuncia. “Baixei o app da Uber, que chegou em menos de 10 minutos, e paguei menos de um quarto do preço dos que os táxis estavam cobrando. Foi a única vez que usei e ficou muito clara a discrepância”, afirma.
A professora universitária Teresinha Lima, 57, destaca o comportamento dos motoristas. Ela usou o aplicativo em viagens a São Paulo, incluindo o trajeto do aeroporto, a partir de recomendações de amigos que destacaram a qualidade do serviço e o preço mais baixo. “É notável como eles têm uma postura mais amigável do que a média dos taxistas. É um tratamento diferenciado”, conta Teresinha.
O engenheiro Murilo Bernardes, 30, que utiliza rotineiramente o sistema quando vai a São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, também compara o ambiente interno dos táxis e dos veículos Uber. “Os carros da Uber são mais confortáveis, o ar está sempre gelado, você pode sincronizar seu Spotify (aplicativo de músicas), muitas vezes tem água e bombons disponíveis... é mais prático, mais confortável e mais barato”, resume

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